‘Domingo de graça’ no transporte de BH traz alívio ao bolso, mas pode pressionar tarifa no futuro

Especialista alerta que alguém terá que pagar a conta; PBH ainda não detalhou como será a compensação

A gratuidade no transporte coletivo de Belo Horizonte (BH) aos domingos e feriados deve trazer alívio imediato no orçamento de quem depende do ônibus para se deslocar na capital mineira.

Segundo análise da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas Administrativas e Contábeis de Minas Gerais (Ipead), a medida pode reduzir, em média, 4,69% dos gastos com passagem — especialmente para a população que utiliza o serviço também nesses dias. Por outro lado, a instituição alerta que o valor não é de graça.

O gerente de pesquisa, Eduardo Antunes, explica que a tarifa não será reduzida, mas quem usava o ônibus aos domingos e feriados deixa de gastar com o deslocamento. “Quem utiliza o transporte sempre vai estar gastando 4,69% a menos em relação à tarifa que pagava como um todo”, disse.

Impacto na inflação e maior circulação

Além do efeito no bolso do passageiro, a gratuidade também interfere nos índices que medem o custo de vida das famílias.

Segundo o Ipead, o gasto com transporte público fica menor e puxa a inflação para baixo. Essa redução aparece em dois indicadores com maior percepção entre famílias de menor renda:

  • -0,126 ponto percentual (p.p.) no Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que abrange famílias com renda de 1 a 40 salários mínimos.
  • -0,368 p.p. no Índice de Preços ao Consumidor Restrito (IPCR), que abrange famílias com renda de 1 a 5 salários mínimos.

Com a gratuidade, a inflação no transporte seria menor durante o ano: “A inflação seria de 4,40% e ficaria próximo de 4%. Então, ela recuaria bastante”.

Além disso, a projeção aponta potencial de aumento da circulação de pessoas no lazer e no trabalho informal, principalmente neste final de ano. “Quem deixa de utilizar o transporte no final de semana para redução de custos pode começar a voltar a sair”, detalhou Antunes.

Alívio no bolso agora, pressão no sistema depois?

Apesar dos benefícios sociais evidentes, a Fundação Ipead indica risco de compensação futura dessa renúncia de receita equivalente a quase 5% do total arrecadado com passagens.

Segundo Antunes, o executivo municipal deve precisar ratear o valor renunciado com toda a população. “Por mais que às vezes a gente discuta isso, não existe almoço grátis. Esse valor que vai ser renunciado pela prefeitura neste momento, ele vai ter que ser compensado em outros lugares”.

Há também a possibilidade de pressão no déficit do sistema. “Ainda não existe clareza sobre até que ponto vai prejudicar ou não a população”.

Saldo incerto e custeio

O gerente de pesquisa avalia que a balança pode pender para um dos lados. “O benefício chega na hora para quem tem orçamento mais restrito. O restante da população, que provavelmente terá que arcar com o resto, há de se ver ainda o que exatamente vai acontecer”, disse.

Procurada, a Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) se limitou a informar que a gratuidade será custeada pela PBH, por meio da remuneração complementar.

Metodologia

A projeção considerou dados informados pela PBH: um total de 270 milhões de passageiros em um ano, dos quais 12,6 milhões viajariam sem pagar aos domingos e feriados entre novembro de 2024 e outubro de 2025.

Publicado por Hoje em Dia – Caderno de Economia e Finanças – em 10 de dezembro de 2025 | Reportagem de Ana Luísa Ribeiro


Posted in Tarifa gratuita nos ônibus de BH aos domingos e feriados and tagged .

Assessoria de Comunicação Fundação IPEAD

View posts by Assessoria de Comunicação Fundação IPEAD

Assessoria de Comunicação Fundação IPEAD - ipead@ipead.face.ufmg.br