Medida poderá beneficiar mais de 12 milhões de passageiros, mas tende a pressionar o valor da passagem; PBH diz que custo sairá de ‘remuneração complementar’
Um estudo da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas, Administrativas e Contábeis de Minas Gerais (Ipead) aponta que o custo da gratuidade no transporte público aos domingos e feriados em Belo Horizonte deve ser incorporado no reajuste anual do valor da passagem. A pesquisa, divulgada nesta terça-feira (9), faz uma análise de possíveis impactos positivos e negativos da gratuidade no transporte em BH, anunciada pelo prefeito Álvaro Damião (União Brasil) no último domingo (7).
“Provavelmente, esse valor gratuito vai ser rateado pela população com um possível aumento de tarifa, nas revisões tarifárias anuais, que pode ser acima do esperado”, destaca o gerente de pesquisa da Ipead, Eduardo Antunes.
O último reajuste no valor da passagem, feito em 1º de janeiro de 2025, aumentou o preço em R$ 0,50, levando a tarifa básica para R$ 5,75, o que levou Belo Horizonte ao maior valor entre as capitais da região Sudeste.
“De algum lugar esse recurso vai ter que sair. Ou é do bolso da população, que vai continuar pagando essa tarifa, ou através de um aumento no subsídio”, afirma o gerente da Ipead.
No entanto, a Superintendência de Mobilidade (Sumob) informou que a gratuidade será custeada pela Prefeitura de Belo Horizonte, por meio da remuneração complementar.
Pontos positivos
O Ipead também apontou dois pontos positivos da medida. Pessoas de baixa renda poderão usar o transporte público sem que haja um impacto negativo nas finanças. Além de facilitar a vida do trabalhador autônomo, que não vai precisar mais arcar com o próprio deslocamento aos domingos e feriados em BH.
“(Um ponto positivo é) Estimular a população de baixa renda a circular pela cidade nesses períodos. Uma família, que normalmente usa o transporte público, vai poder sair sem pensar que isso vai gerar um impacto negativo no bolso”, aponta Eduardo Antunes.
O levantamento estima também que a medida poderá beneficiar mais de 12,652 milhões de pessoas, número de cidadãos que usaram o transporte público nos dias de gratuidade ao longo de doze meses. O estudo levou em conta dados da Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) de novembro de 2024 a outubro de 2025.
Gratuidade começa no dia 14
Álvaro Damião foi às redes sociais para anunciar a ação, que faz parte das celebrações pelos 128 anos da capital mineira. A medida passa a valer a partir do próximo domingo (14).
“Para você que, aos domingos, quer visitar um amigo ou um parente e não consegue porque não tem dinheiro para a passagem. Quer passear no Parque Municipal ou na Feira Hippie e não vai. Esse foi o último domingo assim, porque a partir da próxima semana, em domingos e feriados, o ônibus será de graça em Belo Horizonte”, disse o prefeito.
Tarifa Zero
A medida aconteceu dois meses após a Câmara de Belo Horizonte (CMBH) rejeitar o Projeto de Lei (PL) 60/2025, de autoria da vereadora Iza Lourença (Psol), que previa aplicação da tarifa zero em todo transporte público da capital mineira, por 30 votos contra 10 favoráveis. A matéria precisava do apoio de 28 vereadores.
Crítico ao projeto, o prefeito articulou com aliados que votaram contrários ao texto. Funcionários da prefeitura, ligados aos vereadores favoráveis ao PL, foram exonerados no dia seguinte à votação, como forma de retaliação.
Com o novo anúncio, alguns vereadores que votaram contra o “Tarifa Zero” demonstraram desconforto por não terem sido envolvidos na divulgação da medida e por terem ficado com o desgaste político de rejeitar um projeto que tinha forte apoio popular.