O pesadelo da alta de preços assombra a cozinha dos brasileiros
Números e índices econômicos são frios. Por isso, causa pouca comoção quando se fala que o Boletim Focus do Banco Central revisou a projeção da inflação oficial para 3,53%, na sétima alta semanal do IPCA. Mas não há nada de insensível na perda de poder aquisitivo da população e da alta do custo de vida, como bem mostram os mais de R$ 80 pagos por um botijão de gás, em média, na capital mineira.
O levantamento de preços do Mercado Mineiro, divulgado no mesmo dia do Boletim Focus, põe no papel o que os cidadãos vêm sentindo, pelo menos desde julho quando o vasilhame podia ser encontrado por até R$ 56.
Hoje, com a variação de custos, há distribuidoras que cobram até R$ 99 pelo botijão de 13 kg.
Há uma série de razões para essa disparada. Na política de preços internacionais adotada pela Petrobras, a empresa já aumentou o custo do GLP em mais de 16% desde janeiro deste ano.
Intimamente ligado ao primeiro fator, desde o início de 2020, o dólar acumula mais de 30% de alta em relação ao real. E, apesar de ser um grande produtor, o Brasil importa quase um terço do gás de cozinha que consome.
A desvalorização cambial pesa no bolso dos belo-horizontinos não apenas no gás, mas também na sua alimentação. Em outubro, a cesta básica atingiu o patamar de R$ 520,79, segundo o Ipead-UFMG, o maior valor da história, muito em função do direcionamento da produção para o mercado externo (que paga melhor) e da redução da oferta dentro do Brasil, pressionando ainda mais a concorrência e o custo final.
É preciso agir rápido para que a inflação não fuja ao controle e ressuscite um flagelo que se acreditava superado, promovendo estímulos ao produtor interno. Os números podem até ser frios e insensíveis, mas a política econômica, nunca.