Reajustes salariais: aumentos abaixo da inflação crescem, mas ganho real ainda predomina

Negociações coletivas de maio indicam 20% de reajustes abaixo do INPC, mas maioria ainda supera a inflação em contexto de mercado aquecido.

O boletim “De olho nas negociações”, do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), aponta que 20% dos 815 reajustes salariais estabelecidos por negociações coletivas em maio ficaram abaixo do Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) no País. Esse é o maior percentual desde setembro de 2022 – o que indica uma persistência do quadro de alta que já vinha sendo observado em abril.

No entanto, conforme o levantamento, os resultados de negociações iguais ou acima da inflação ainda são maioria: 67,9% dos casos tiveram ganhos reais e 12% recuperaram o poder aquisitivo em maio. A variação real média dos reajustes no mês foi de 0,78% acima da variação do INPC.

Segundo o economista Paulo Casaca, do Instituto de Pesquisas Econômicas e Administrativas (Ipead), não há um único fator que explique os resultados abaixo do INPC. “Depende do histórico das empresas e da situação de cada setor. Às vezes, é uma forma de evitar demissões ou cortes salariais”, afirma. Ele também destaca que “nem sempre o INPC reflete com precisão a realidade econômica de cada categoria”. 

O advogado e presidente da Comissão de Apoio Jurídico a Micro e Pequenas Empresas da OAB-MG, Flávio Monteiro, complementa que o resultado das negociações também pode ser influenciado pelo “desnível de forças” entre empresas e trabalhadores.

Monteiro também concorda que há um processo cíclico que depende do setor, da conjuntura econômica e da inflação. O professor cita o setor da saúde durante a pandemia como exemplo de momento em que os reajustes ficaram abaixo do INPC devido à fragilidade financeira dos hospitais.

Ganhos reais ainda é maioria dos casos de reajustes salariais

A prevalência de reajustes acima da inflação, em 67,9% dos casos em maio, é explicada por Paulo Casaca pela menor taxa de desemprego nos últimos anos. Segundo ele, “como está mais difícil das empresas conseguirem contratar, então elas tentam manter os funcionários”.

Dessa forma, os empreendimentos querem “diminuir a taxa de rotatividade, para manter o número máximo de funcionários sem gastar com contratação e treinamento”. Para o economista, o fato de a maioria das empresas ter reajustado os salários acima do INPC é um indicativo de que o mercado de trabalho continua aquecido. 

O Dieese ressalta que o reajuste salarial necessário para recomposição, conforme o INPC, foi de 5,32% em maio, considerado o maior no período analisado. O que, segundo a instituição, pode ser um reflexo do aumento da inflação. Para os reajustes que obtiveram ganhos reais, o aumento médio foi de 1,31%, enquanto para os que ficaram abaixo da inflação, a diminuição média foi de 0,54%.

Setor rural e de serviços tiveram melhores resultados 

Os setores rural e de serviços apresentaram os melhores resultados em 2025 com ganhos reais de 82,8% e 79,1% das negociações, respectivamente. O setor rural registrou as maiores variações reais médias: 1,48% em 2025 e 1,21% nos últimos 12 meses.

Para Casaca, o desempenho é impulsionado pela política de valorização do salário mínimo e por pressões do mercado. “Em determinadas regiões, era inviável manter salários antigos — as empresas não conseguiam contratar”, explica.

O economista acrescenta que o setor rural é influenciado por questões climáticas e pelos resultados da agropecuária. Além disso, o economista aponta que atualmente há uma grande concorrência de contratação entre as áreas do setor, o que exige maior remuneração para reter e atrair trabalhadores. 

Regionalmente, o Sudeste se destaca em 2025 com 82,6% de negociações com resultados acima da inflação, e o Sul apresenta a menor presença de reajustes abaixo do INPC, com um percentual de 5,4%. Em relação aos pisos salariais, o boletim indica que o piso salarial médio das negociações em 2025 é de R$ 1.767, com o setor de serviços e a região Sul registrando os maiores valores médios e medianos.

As negociações coletivas

Flávio Monteiro ressalta que a negociação coletiva tem respaldo na Constituição Federal, que reconhece os acordos e convenções coletivas. Segundo ele, o processo é obrigatório, mas o resultado depende da correlação de forças. “A greve é a principal ferramenta de pressão dos trabalhadores”, afirma. Além disso, ele explica que o cumprimento dos instrumentos coletivos pode ser fiscalizado por sindicatos, advogados, Ministério do Trabalho e Ministério Público do Trabalho.

No acumulado de 2025 até maio, 78,4% dos reajustes salariais apresentaram ganhos reais, 12,6% foram iguais à inflação e 9% ficaram abaixo. No recorte dos últimos 12 meses (jun/24 a mai/25), 79,4% das negociações superaram a inflação. Os dados são preliminares e baseados em instrumentos coletivos registrados no sistema Mediador, do Ministério do Trabalho e Emprego. O levantamento considera somente trabalhadores celetistas do setor privado e de empresas estatais.

Fonte: Jornal Diário do Comercio – caderno de Economia – reportagem Ana Luisa Sales – Publicado em 25/06/2025.

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