Custo de vida na capital mineira subiu 5,23% em 2019, também sob influência de energia elétrica, excursões e condomínio. Despesas de novembro e dezembro turbinaram índice Com lanche e carne caros, BH tem maior IPCA em 3 anos
A inflação de 2019 em Belo Horizonte alcançou 5,23%, medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), da Fundação Ipead, vinculada à UFMG. Embora tenha ficado dentro da meta estipulada pelo governo, de 5,75%, o índice teve o maior avanço na capital mineira nos últimos três anos. Em 2018, o IPCA havia subido 4,59%, depois de um 2017 em que a elevação média de todos os preços ficou em 3,94%.
Os gastos da população com lanche, feijão carioquinha e as carnes lideram as pressões sobre o custo de vida no ano passado, particularmente influenciadas pelos alimentos. Já entre as demais despesas, as excursões, o condomínio e a energia elétrica foram os principais vilões.
A coordenadora de pesquisas da Fundação Ipead, Thaize Martins, explica que a inflação de BH mudou de curso ao longo do ano. “Até outubro, esteve abaixo do centro da meta”, diz. A maior pressão para a elevação do índice veio nos meses de novembro e dezembro. Segundo Thaize, o último mês do ano mostrou variação de 1,09%, a mais alta dos últimos 15 anos. A explicação está na forte alta dos preços das carnes, aliada às elevações esperadas durante as festas de fim de ano.
O setor de alimentação teve variação de 6,82% em 2019 e contribuiu com 1,04 ponto percentual para a inflação anual. Os alimentos de elaboração primária, grupo que inclui carnes, ovo e leite, sofreram variação de 21,89%, em média, no ano passado e contribuíram 0,53 ponto percentual para o índice anual. A inflação do lanche impressiona, com aumento de 13,55% em 2019, farto destaque entre as altas do grupo de despesas com alimentação.
A forte alta das carnes no fim do ano passado também foi refletida no índice calculado pela Fundação Ipead. O preço da alcatra variou 41,64% e o do contrafilé, 43,08%. Contudo, o produto que mais encareceu foi o feijão carioquinha, cujo preço subiu 51,28%. Segundo Thaize Martins, houve escassez do grão no mercado interno e os produtores tiveram que refazer áreas de plantação. “Isso interferiu na colheita, com menos produto no mercado. Quanto menor a oferta, maior o preço”, explica. Por outro lado, o tomate foi o alimento que ficou mais barato no ano passado: a variação negativa foi de 43,89%.
No acumulado do ano, os itens não alimentares tiveram contribuição maior para a inflação na capital. O setor, que inclui despesas pessoais e gastos com habitação, contribuiu com 80,15% do IPCA de 2019, representando 4,19 pontos percentuais. Os preços das excursões de turismo variaram 42,86%, em média, no ano e contribuíram com aproximadamente 1 ponto percentual para o índice final. Thaize Martins analisa que a demanda do setor de turismo foi alta ao longo do ano, quadro que se aliou à alta do dólar, o que significou aumento nos preços.
As contas de condomínio também foram destaque, variando 9,17%. Já a energia elétrica ficou 9,9% mais cara. O produto não alimentar que mais encareceu no ano foi o tênis infantil, com variação de 45,07%. Enquanto isso, os preços do conjunto dos artigos de vestuário sofreram alta de 6,37%. Na direção inversa, o produto que ficou mais barato foi o seguro obrigatório de veículos, com variação negativa de 60,85%. Segundo Thaize Martins, esse resultado pode ser explicado pela extinção do tributo proposta pelo presidente Jair Bolsonaro em 2019.
Pessimismo
A Fundação Ipead também divulgou ontem o Índices de Confiança do Consumidor (ICC) referente a dezembro em Belo Horizonte. O indicador somou 30,07 pontos, queda de 2,58% em relação ao apurado no mês de novembro. O levantamento foi feito entre 28 de novembro e 20 de dezembro do ano passado. Abaixo dos 50 pontos, se considera que o consumidor está pessimista com a situação econômica do país e a situação financeira da família.
Outra pesquisa divulgada foi a de taxas médias de juros praticadas para pessoa física e jurídica na capital. A maioria das taxas médias para pessoa jurídica sofreu alta em dezembro. A que sofreu maior variação foi a de imóveis construídos. A taxa média registrada do segmento ficou em 1,27%, alta de 89,55% em relação a novembro. Já a maior taxa média mensal registrada foi a do cheque especial, de 12,37%.
(*) Estagiário sob a supervisão da sueditora Marta Vieira.
Fonte: Jornal Estado de Minas – Publicado em 09/01/2020 por Felipe Quintella.