Renda dos trabalhadores cai, e sensação de escassez é maior

Em 2014, rendimento médio em Belo Horizonte comprava seis cestas básicas; agora, dá apenas para quatro, segundo levantamento do Ipead

Se sobe o desemprego, a renda média do trabalhador cai. Nos últimos cinco anos,enquanto o total de desocupados de Minas Gerais subiu 69%, o rendimento encolheu 3,3%. De acordo com dados da Pesquisa Nacional por Amostra por Domicílios (Pnad Contínua), no primeiro trimestre de 2014, os mineiros ganhavam em torno de R$ 2.025. No primeiro trimestre deste ano, a renda média havia caído para R$ 1.957. “Com um contingente maior de pessoas sem emprego, a oferta de trabalhadores fica maior e, consequentemente, o valor médio dos salários cai”, explica o professor de economia da Fundação Getulio Vargas (FGV) Mauro Rochlin.

Para piorar a situação, enquanto os salários foram sendo achatados, o custo de vida não parou de subir. Segundo o Instituto de Pesquisas Econômicas, Administrativas e Contábeis (Ipead/ UFMG), a inflação acumulada de março de 2014 a março de 2019 foi de 40,5%. O resultado dessa equação é a quedado poder de compra.

Com o rendimento médio de 2014, dava para comprar seis cestas básicas em Belo Horizonte. Agora, a renda média só é suficiente para comprar quatro. “É um efeito cascata. Nós tivemos uma enorme crise que gerou um número muito grande de desempregados. Para muitas famílias, ficou mais difícil manter o padrão de vida”, analisa a coordenadora de pesquisa e desenvolvimento do Ipead, Thaize Vieira Martins.

“Eu vi o achatamento da renda. A cada dia o trabalhador trabalha mais e não consegue nada. Energia mais cara, água mais cara. Só não aumenta o salário”, reclama o técnico de enfermagem Samuel Ferreira, 62. Acesta básica, que custava R$ 337 em março de 2014, subiu para R$ 456 em março deste ano. Thaize explica que, se pegarmos só o impacto real, descontando a inflação, o preço teve, na verdade, queda de cerca de 4%. Entretanto, o aumento aparente, sentido no bolso de quem não teve o salário reajustado pela inflação,foi de 35%. “Antigamente a gente saia com R$ 150 e conseguia fazer uma bela compra. Agora a gente não compra quase nada. Tudo subiu, menos o salário”, diz a doméstica Márcia Aparecida, 48. No mesmo período, a gasolina subiu 68%, a energia aumentou 69%, e a água acumulou alta de 65%, tudo acima da inflação. 

Em comparação com o rendimento médio nacional, a situação de Minas Gerais é pior. Enquanto a remuneração dos brasileiros teve ligeiro aumento de 0,7%, a dos mineiros caiu 3,3%. “Uma das explicações pode ser a dependência da mineração no Estado. Toda a cadeia do setor sofreu impactos com as tragédias de Mariana e Brumadinho”, diz Rochlin.

Planos de saúde subiram 72% e perderam 440 mil usuários

Em cinco anos, o custo dos planos de saúde disparou 72%,segundo o Instituto de Pesquisas Econômicas, Administrativas e Contábeis (Ipead/UFMG). Mesmo depois de descontar a inflação de 40,5% acumulada no período, o aumento real ainda é alto para o usuário: 22,38%.

Os custos foram pressionados pelo aumento do desemprego. Com mais pessoas demitidas, mais gente perdeu o plano que tinha. As estatísticas da Agência Nacional de Saúde (ANS) mostram que, de 2014 para 2019, 440 mil pessoas deixaram de ter um plano de saúde privado em Minas Gerais. A queda foi de 8%. No mesmo período, o Brasil perdeu 2,5 milhões de beneficiários, uma redução de 5,2% nos últimos cinco anos. A cada cem pessoas que deixaram de ter plano, pelo menos cinco eram mineiros.

Fonte: Jornal O Tempo – Publicado em 23/07/2019 por Queila Ariadne e Tatiane Lagôa.

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