Inflação camuflada: consumidores sentem alta de preços além do índice oficial e mudam hábitos

Abril nem saiu do começo, mas, para muita gente, o salário já está nas últimas. E o motivo é simples. Embora os institutos apontem que a inflação em Belo Horizonte já esteve maior durante a crise econômica, alguns produtos subiram muito mais do que o estimado, e o consumidor tem sentido dificuldade para fechar as contas. A solução é só uma: cortar onde for possível. 

Segundo a Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas Administrativas e Contábeis de Minas Gerais (Ipead), em 2016 a inflação na capital mineira bateu 7,86% ao ano. Em 2018, foi 4,59%. Conforme a coordenadora de pesquisas do instituto, Thaize Vieira, a inflação é composta por 210 produtos. Dependendo de como as pessoas utilizam os itens, o gasto pode ser maior.

“A inflação leva em consideração a variação média de uma série de produtos. A forma como esses itens são consumidos muda o índice de uma família para outra”, diz. Ela destaca que, em 2018, 83% do índice foi composto por itens não alimentícios. Os alimentos responderam por 17%.

Na avaliação da professora de economia da Faculdade Promove Mafalda Ruivo, o problema das médias é que não conseguimos ver as distorções. 
“Coloca-se todos os produtos no mesmo cesto e a pessoa sente o que usa mais. Além disso, houve um encolhimento da renda, pois o salário não aumentou os 4,59%. O poder de compra do consumidor foi reduzido”, aponta.

Como exemplo, é possível citar a gasolina. No ano passado, o combustível aumentou 12,69% (quase três vezes mais do que a inflação), impactando diretamente no bolso de quem usa o carro para trabalhar. 

Para driblar o aumento, a analista de sistemas Aline Michelle Ellen Oliveira deixou de vez o automóvel na garagem. Ela também não anda mais de ônibus, cujas passagens foram reajustadas em 11% em 30 de dezembro passado. 

A solução foi usar a moto. “Optei por vir de moto para o trabalho, mesmo tendo parado de pilotar há muitos anos. Com essa mudança, gasto muito menos de gasolina”, afirma Aline. 

E a economia não para por aí. Para pegar menos trânsito, Aline sai mais cedo de casa e aproveita para reduzir os gastos com energia, que subiu 10,81% no ano passado. 

“Malho antes do trabalho e tomo banho lá, economizando água e energia. Troquei de academia também. Fazia pilates e larguei. Peguei academia mais popular”, diz. As viagens, que aumentaram 16,69%, também foram cortadas. 

Foram feitos cortes até na escola – o aumento da mensalidade, no ensino fundamental, foi de 7,85% – e na “terceirização” dos afazeres domésticos. “Tinha uma empregada, babá do meu filho, e a dispensei. Consegui vaga em escola da prefeitura para ele. Agora, tenho faxineira que vai uma vez por semana”, afirma a analista de sistemas.

Na alimentação, novas mudanças. As refeições fora de casa, que subiram 7,84% no acumulado do ano, deram lugar às marmitas. E os passeios também foram reduzidos.

“Cervejas artesanais, algo de que eu gosto muito, agora só compro quando tem promoção. Para encontrar as promoções, uso vários aplicativos de fidelidade. Quando tem algum produto com preço melhor, compro em maior quantidade”.

Primeiro passo para economizar é fazer levantamento de gastos

Em tempos de crise econômica, colocar todos os gastos na ponta do lápis é fundamental para saber onde será possível economizar, explica a professora de economia da Faculdade Promove, Mafalda Ruivo. 

A servidora pública Míriam Cruz é exemplo de como anotar tudo dá certo. Por mês, ela tem economizado de 10% a 15%. E o objetivo é chegar a 30%.

“Todos os meus gastos são anotados. Para facilitar, compro tudo no cartão de crédito”, diz. Além de ver todos as compras no extrato ao fim do mês, ela usa os pontos para trocar por milhas e viajar com a família.

Antes de iniciar as compras, Míriam faz um planejamento. Em parceria com o marido, define quanto pode gastar em cada item. “Definimos que podemos gastar ‘x’ de gasolina. Se o valor começar a aproximar, cortamos. Mas, normalmente, isso não acontece, pois economizamos desde o início para não faltar”, afirma.

Os filhos também entraram na onda. Antes da decisão de reduzir os custos, eles faziam aulas de futebol, natação e capoeira. Depois de colocar os gastos no papel, tiveram que decidir entre natação e capoeira. E a escolinha de futebol mudou. 

“Gastava R$ 220 para cada criança treinar futebol. Mudei para uma escola mais barata e mais próxima, que custa R$ 140. E ainda economizo na gasolina”, afirma.

Para reduzir os gastos no supermercado, a servidora pública faz uma lista de compras com produtos mais em conta e a segue à risca. 

A mudança na vida da família ocorreu no fim do ano passado, depois de eles extrapolarem os gastos. “Decidimos aprender a mexer com dinheiro. Fizemos vários cursos gratuitos, on-line, e aprendemos aos poucos”, afirma. 

O resultado foi positivo. Se antes eles tinham uma pequena poupança, hoje a família já faz aplicações no tesouro direto. “E estamos estudando para aumentar os investimentos”, comemora Míriam.

Fonte: Jornal Hoje em Dia por Tatiana Moraes em 10 de abril de 2019.




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