Gasolina comum, plano de saúde individual e computador ajudaram a puxar o índice, que variou 0,50% no sétimo mês de 2025
A inflação em Belo Horizonte desacelerou no mês de julho, segundo levantamento da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas, Administrativas e Contábeis de Minas Gerais (Ipead), divulgado nesta segunda-feira (4). O Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA-BH) registrou alta de 0,50% no sétimo mês de 2025.
A variação representa desaceleração tanto em relação à quadrissemana anterior (0,74%), quanto em comparação com o mesmo período de junho (0,74%). Em 2025, o IPCA-BH registra um aumento acumulado de 4,26%, e nos últimos 12 meses a alta é de 6,11%.
Em termos dos produtos/serviços específicos que se destacaram neste período, as maiores altas foram verificadas para computador completo (12,33%), gasolina comum (3,59%) e plano de saúde individual (2,94%). Os recuos mais expressivos foram da tinta (-10,95%), seguro voluntário de veículos (-5,46%) e cerveja em bares (-5,23%).
Considerando a importância relativa de cada produto e serviço na composição do IPCA-BH, as maiores contribuições para a alta da inflação foram gasolina comum, com 0,14 ponto percentual (p.p.), plano de saúde individual (0,11 p.p.) e refeição fora de casa (0,07 p.p.).
No que se refere ao recuo, os destaques foram do seguro voluntário de veículos (-0,13 p.p.), cerveja em bares (-0,03 p.p.) e pão francês (-0,02 p.p).
A inflação da alimentação em BH
O economista da Fundação Ipead, Paulo Casaca, observa que os preços do grupo de alimentação subiram 0,23% em julho. Ele explica que esse aumento ocorreu devido ao avanço de 0,58% do custo da alimentação fora da residência, puxado pela elevação do item alimentação em restaurante (1,05%).
No subgrupo alimentação na residência, dois dos três itens subiram, sendo alimentos in natura com alta de 0,98% e alimentos em elaboração primária com incremento de 0,33%. Por outro lado, o item alimentos industrializados recuou 0,51%.
O grupo produtos não alimentares teve alta de 0,56%, afetado pelas altas dos subgrupos produtos administrados (0,90%), habitação (0,71%) e pessoais (0,35%).
Índice de Preços ao Consumidor Restrito cresce na Capital
Na segunda-feira (4), a Fundação Ipead também divulgou o Índice de Preços ao Consumidor Restrito (IPCR-BH) de Belo Horizonte, que considera apenas os gastos das famílias com renda de até cinco salários mínimos e difere do IPCA devido às diferentes ponderações (pesos) atribuídas a cada bem e serviço nos orçamentos familiares. Consequentemente, as variações de preços afetam o IPCR de maneira distinta.
O IPCR-BH cresceu 0,56% em julho, ficando um pouco acima do IPCA-BH, que variou 0,50%. O índice desacelerou tanto em comparação à quadrissemana anterior (0,65%) quanto em relação ao mês anterior (0,71%). Em 2025, o IPCR-BH acumula crescimento de 4,31% e, nos últimos 12 meses, de 6,34%.
Análise da inflação – Para o professor dos cursos de gestão e RI do UniBH, Fernando Sette Júnior, o desempenho da inflação de Belo Horizonte é preocupante, apesar da desaceleração registrada em julho. Ele ressalta que no acumulado em 12 meses, o índice alcança 6,11%, ultrapassando de forma clara o teto da meta definida pelo Banco Central (BC) para 2025, que é de 4,5%.
Nesta segunda-feira (4), especialistas consultados pelo BC reduziram pela 10ª semana seguida a perspectiva para a inflação do País em 2025. O levantamento, que capta a percepção do mercado para indicadores econômicos, apontou que a expectativa para a alta do IPCA este ano caiu em 0,02 ponto percentual, indo a 5,07%.
Apesar do recuo, permanece o cenário de que a inflação voltará a ficar dentro da meta no ano que vem — a conta para 2026 no Focus também foi ajustada para baixo, de 4,44% para 4,43%.
“O cenário é ainda mais delicado para as famílias de menor renda: o IPCR-BH, que mede a inflação para esse público, atinge 6,34%, em 12 meses, indicando uma perda de poder de compra mais intensa entre os grupos mais vulneráveis”, observa o professor.
Para Sette Júnior, a tendência da inflação em Belo Horizonte para o mês de agosto é de desaceleração, ainda que moderada e acompanhada de fatores que exigem atenção. “Os primeiros sinais indicam um arrefecimento da pressão inflacionária, sustentado por quedas expressivas em itens da cesta básica”, analisa.
O economista da Fundação Ipead, observa que haverá pressão da energia elétrica nos índices de inflação, já que a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) definiu, no último dia 25, o acionamento da bandeira tarifária vermelha patamar 2 para as contas de luz no mês de agosto, impondo cobrança adicional dos consumidores devido a um cenário de geração de energia mais apertada previsto para o mês.
Ele lembra que, além do impacto direto no bolso do consumidor, a energia mais cara tem reflexos na cadeia produtiva, situação já esperada por questões sazonais relacionadas ao clima seco. ” Há fatores esperados e inesperados que acabam interferindo na composição da inflação do mês”, diz.
Sette Júnior destaca que o clima seco e instável típico do inverno pode impactar negativamente a oferta de hortifrutigranjeiros, como tomate e banana, cujos preços já vinham oscilando em alta. “Além disso, os reajustes em preços administrados, como energia elétrica e saneamento, continuam sendo uma ameaça concreta ao controle da inflação no curto prazo”, avalia.
Dessa forma, ele disse acreditar que a inflação em agosto deve ser inferior ao patamar observado em julho, situando-se possivelmente entre 0,30% e 0,45%. “Isso indica uma continuidade da trajetória de desaceleração lenta, mas sem sinal de convergência rápida para o centro da meta anual, mantendo o cenário ainda desafiador para consumidores e para o comércio local”, diz.