Inflação de BH cresce acima da média nacional no Plano Real

Nos últimos 30 anos, o IPCA calculado pelo Ipead registrou aumento de 789,3% na capital mineira enquanto no País o indicador do IBGE apresentou elevação de 708%

Inflação de BH cresce acima da média nacional no Plano Real
O preço da alimentação fora da residência deu um salto de 1.132,03% em 30 anos do Plano Real em Belo Horizonte | Crédito: Diário do Comércio / Charles Silva Duarte

Nos 30 anos de existência do Plano Real, o custo de vida da Capital subiu mais do que a média no País. Levantamento da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas, Administrativas e Contábeis de Minas Gerais (Ipead) aponta que o Índice de Preços ao Consumidor Amplo de Belo Horizonte (IPCA-BH), calculado pela entidade, registrou alta de 789,93% de julho de 1994 a junho de 2024, enquanto o IPCA do Brasil, calculado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), subiu 708%.

O economista da Ipead, Diogo Santos, explica que o crescimento do indicador belo-horizontino acima da média nacional, nesses 30 anos da moeda brasileira, foi impulsionado por dinâmicas próprias da cidade, observadas na alimentação, principalmente a realizada fora da residência, e nos produtos administrados, que englobam tarifas com transporte, energia e Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU).

“Ocorreu uma dinâmica aqui em Belo Horizonte em que provavelmente a disponibilidade da oferta da alimentação fora da residência não foi suficiente para conseguir controlar um pouco os preços”, afirma Diogo Santos. De fato, em 30 anos do Real, o grupo alimentação registrou uma inflação de 1.021,20% na Capital, bem acima do IPCA-BH.

O subgrupo alimentação fora da residência impulsionou a alta geral, com expressivos 1.132,03% de crescimento, enquanto a alimentação na residência registrou uma inflação de 979,87%. Santos aponta que o crescimento econômico impulsiona a alimentação fora da residência, tanto pelo aumento da renda quanto por necessidades profissionais.

Durante a década mais próspera do Plano Real, entre 2004 e 2014, um dos fatores que podem explicar a alta do subgrupo, é que a oferta da alimentação fora da residência em Belo Horizonte não conseguiu acompanhar o aumento da demanda ocorrido no período de maior crescimento econômico e menores taxas de desemprego.

A década de 2004 a 2014, inclusive, foi o período com a menor perda de poder de compra da Capital, quando o IPCA-BH registrou alta acumulada de apenas 72,19%. O IPCA-BH acumulou o maior crescimento durante a primeira década do Plano Real (1994 a 2004), com variação de 167,54%. Nos últimos dez anos (2014 a 2024), o crescimento acumulado da inflação belo-horizonte foi de 93,18%.

Diogo Santos também destaca o crescimento acima da média nacional e do IPCA-BH do grupo dos produtos administrados (1.176,59%), composto por custos particulares dos locais, como tarifas de energia, transporte público, combustíveis, comunicação e IPTU. “Outro fator que possivelmente impactou essa elevação do custo de vida maior em BH foi também os reajustes desses preços administrados”, disse.

Proporção do custo da cesta básica no salário mínimo diminuiu ao longo do Plano Real

Em três décadas, a inflação da cesta básica em BH foi de 1.247,55%. Somente óleo de soja (586,94%) e feijão carioquinha (775,69%) registraram acúmulos de preços abaixo do IPCA-BH. O economista da Ipead afirma que é normal o índice da cesta básica crescer acima da inflação total, pelo maior consumo oriundo de maior renda. “Agora o crescimento bastante expressivo da cesta básica também demonstra que talvez seja necessário Belo Horizonte pensar em como melhorar sua estrutura de abastecimento de alimentos”, ressalta.

Nos primeiros dez anos do Plano Real, o belo-horizontino gastou dois terços (65,01%) do salário mínimo para adquirir uma cesta básica. Nos 20 anos seguintes, essa proporção caiu para menos da metade do pagamento salarial (48%). Atualmente, é necessário gastar 52,15% do salário mínimo para comprar uma cesta básica em BH.

Santos pontua que, por mais que o IPCA-BH esteja acima da inflação nacional nesses 30 anos, o descolamento não é tão grande. Ou seja, o controle inflacionário ocorrido no País também aconteceu na Capital. Mas é importante analisar a estrutura de oferta de alimentos, seja na cadeia produtiva ou no comércio. “Certamente uma preocupação é com essa estrutura de oferta de alimentos, de modo a ter uma pressão menor sobre o custo cesta básica”, avalia.

Fonte: Jornal Diário do Comércio – Publicado em 29/06/2024 – Reportagem Marco Aurélio Neves – caderno de Finanças.

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