Batata a R$ 10 o quilo causa prejuízo de até 30% a negócios em BH

Em novembro, o quilo do tubérculo custava, em média, R$ 6,50; chuvas e pragas no campo levaram à menor oferta no mercado
Soul Batata gasta cerca de 500 kg de batata, que são servidas fritas, recheadas, em purês ou nhoques - Foto: Sou Batata/Divulgação
Soul Batata gasta cerca de 500 kg de batata, que são servidas fritas, recheadas, em purês ou nhoques — Foto: Sou Batata/Divulgação

Com a batata inglesa sendo encontrada por até R$ 13,98 o quilo em Belo Horizonte, muitos bares e restaurantes da capital estão amargando um prejuízo alto. Segundo uma pesquisa recente do site Mercado Mineiro, o quilo do tubérculo era encontrado, em média, por R$ 6,49 em novembro de 2023. Em janeiro deste ano, o preço médio subiu para R$ 10,33, um aumento de 59,18%. 

Um dos negócios afetados por este cenário de inflação é o Soul Batata, casa situada no Coração Eucarístico, na região Noroeste de BH. A casa gasta, por mês, cerca de 500 kg de batata, que são servidas fritas, recheadas, em purês ou nhoques. “Perdemos mais de 30% do nosso lucro”, reclama Virgínia Maria Honorato, 40, proprietária do empreendimento.

Segundo ela, o aumento sazonal de início de ano já era esperado, mas o restaurante não faz um reajuste prévio dos preços para não perder a clientela, formada majoritariamente por universitários. “Como sei que o preço acaba voltando, infelizmente ficamos com o prejuízo. Principalmente no ponto onde estou, a competitividade é enorme”, explica.

O negócio, que existe há três anos no mesmo local, recebe uma média de 30 clientes diários.

Já no La Casa de Batatas, delivery de BH que tem nas batatas recheadas mais de 90% de suas vendas, a situação é crítica. Segundo Nicholas Henrique Mendes, de 23 anos, sócio-proprietário do negócio, em janeiro o movimento já é fraco devido às viagens de férias. No início do ano, ele compra apenas metade dos 100 kg que normalmente gasta mensalmente. “Se o preço não normalizar em breve, provavelmente teremos que reajustar os valores e teremos uma queda enorme de vendas”, explica.

Até a primeira quinzena de novembro, ele conta que comprava o quilo da batata no Ceasa por, no máximo, R$ 3,99. Hoje, ele está pagando até R$ 11,99. “A batata é um produto que sempre sofre muita variação de preço, mas igual este de agora não me recordo”, diz. 

Com o insumo principal até três vezes mais caro, a margem de lucro do negócio diminuiu consideravelmente.  “Estamos apenas rezando para que os preços normalizem logo, para não nos prejudicar ainda mais”, desabafa o empreendedor.

Em um restaurante localizado no bairro Caiçara, na região Noroeste de BH, a porção pequena de batata frita passou de R$ 6 para R$ 7 na última semana e, em conversa com a reportagem de O Tempo, o estabelecimento informou que a partir desta semana provavelmente teria que aumentar o valor do almoço devido ao sacolão mais caro. De acordo com pesquisa recente do Mercado Mineiro, além da batata, itens como a cenoura ficaram até 138% mais caros.

Bares seguram prejuízo para não espantar clientes

Apenas dois de 67 bares pesquisados pela reportagem de O Tempo aumentaram os preços da porção de batata frita na última semana. Um deles, localizado no bairro Santa Inês, na região Leste de BH, passou de R$ 24,99 para R$ 27,90 o prato. Outro, também na leste, no bairro Sagrada Família, aumentou em R$ 1 sua porção (R$ 24,90 para R$ 25,90). O levantamento foi feito com base na comparação dos dados do Mercado Mineiro de 8 de dezembro de 2023 e 25 de janeiro deste ano. 

Segundo Karla Rocha, presidente da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes de Minas (Abrasel-MG), quase um terço das empresas no Brasil optaram por não reajustar o cardápio, exatamente por não conseguirem repassar a totalidade do aumento. “Infelizmente, quando acontece uma alta inflação, a única saída dos bares e restaurantes para não perder os clientes, é refazer o seu cardápio com produtos de qualidade, mas mais baratos”, explica.

A reportagem de O Tempo também apurou que muitos bares utilizam batatas congeladas, que ainda não sofreram alterações de preço no mercado. Em uma pesquisa rápida na internet, é possível constatar que a batata pré-frita congelada de 2 kg, de uma popular marca mineira, permanece na média de R$ 34,99 o pacote nos atacarejos locais. Outros bares também preferem esperar os preços normalizarem a investir na produção de novos cardápios. 

Para Diogo Santos, economista da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas, Administrativas e Contábeis de Minas Gerais (Ipead/UFMG), há três fatores principais para o alto valor da batata praticado no Estado. A primeira é o aumento da demanda de final de ano, que permite aos vendedores elevar os preços sem perder vendas. A segunda seriam as variações sazonais de preços que ocorrem, principalmente, em legumes, frutas e verduras. A última relaciona-se às condições climáticas.

Instabilidade climática leva à alta dos preços

Minas é o principal produtor de batata inglesa do Brasil, com 32,6% do mercado, sendo seguido pelos Estados do Paraná e São Paulo, respectivamente.

Segundo dados mais atualizados do IBGE, só em 2022, o Estado produziu 1,28 milhões de toneladas do tubérculo e este número pode ser maior em 2023, já que houve um aumento de 6,4% na área a ser produzida. O Triângulo Mineiro e o Alto Paranaíba são as principais regiões produtoras. 

Mariana Marotta, analista de assistência técnica de agronegócio da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Minas Gerais (Sistema Faemg Senar), explica que, no último ano, houve variações climáticas que afetaram diretamente a produção de batata. “O Triângulo mineiro sofreu com altas temperaturas e teve aparecimento de pragas e doenças. Isso afeta diretamente a oferta do produto no mercado, que faz com que o preço aumente”, explica a analista. 

Segundo ela, houve ainda o aparecimento de traça-da-batata, uma das principais pragas da cultura, que levou o produtor a acelerar a colheita no campo para não perder a safra. “Altas temperaturas e excesso de chuvas trazem doenças e pragas”, detalha Marotta.

A analista pondera que não é possível afirmar que o preço da batata se estabilize a partir de abril, com o fim da temporada de chuvas. “A oferta que determina se vai diminuir ou não”, resume. 

Marotta também revela que, em 2024, há uma expectativa de maior utilização de batatas nacionais para a fabricação industrial das pré-fritas. “Então, pode ser que esse tipo de produto sofra variação de preço”, diz Marotta.

Fonte: Jornal O Tempo – caderno de Economia – Publicado em 03/02/2024 – reportagem Shirley Pacelli.

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