Capacidade humana de transformar dados em informações acessíveis
Referência nacional em pesquisa aplicada e gestão de projetos, a Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas, Administrativas e Contábeis de Minas Gerais (Ipead) comemora 75 anos em 2023.
No Brasil, instituições e empresas com essa longevidade são raras exceções. Pesquisa na base da Receita Federal mostra que, fundadas em 1948, como o Ipead, temos apenas 51 casos (data de extração dos dados: 13.5.2023). É possível que a base consultada seja incompleta, com algum problema de mensuração, mas acreditamos que ela mostra bem o panorama no Brasil. Não é novidade que a economia brasileira sofreu graves crises durante esse período.
A longevidade da Fundação Ipead encontra respaldo na excelência do trabalho realizado e na flexibilidade da sua estrutura de pesquisa. É bem verdade que, ao longo da sua existência, muitos desafios foram superados.
Nesse contexto, o desafio da atualidade talvez seja o maior: lidar com o surgimento e a popularização de mecanismos de pesquisa baseados em Inteligência Artificial (IA). Eu já fui questionado sobre a “sobrevivência” da fundação diante desse cenário. Pois bem, em resposta, posso afirmar que, até este momento, estamos comemorando esse tipo de desenvolvimento (IA) porque entendemos que, antes de ser um rival, é um serviço complementar ao realizado pela Fundação Ipead.
Há, nesse caso, dois pontos que eu gostaria de aprofundar. Em primeiro lugar, vale ressaltar que, diante a coleta de dados primários, está intrínseco o objetivo de obter informações sobre determinado tema que podem ser “ex ante” ou “ex post”. No primeiro caso, enquadram-se as pesquisas realizadas pelo Ipead relacionadas às expectativas de empresários e consumidores, como é o caso do índice de confiança do consumidor, ou, ainda, aquelas realizadas junto aos consumidores na véspera de datas comemorativas, por exemplo. No segundo caso, são informações que captam eventos já acontecidos, como no cálculo da evolução do preço da cesta básica do mês anterior em Belo Horizonte, também efetuado pela fundação.
Os limites e possibilidades da IA são ainda um tema a ser estudado. É verdade que, até onde sabemos, um modelo de inteligência artificial é capaz de realizar, a uma velocidade quase instantânea, uma ampla e aprofundada pesquisa sobre determinado tópico. E, mais, é esperado, à medida que o acesso e a popularização a determinadas bases de dados aconteçam, que a resposta gerada por esses modelos seja ainda mais precisa. Não obstante, esse tipo de pesquisa enquadra-se na segunda categoria. Ou seja, o evento precisa ter acontecido para que o modelo possa captar a informação. Claro, sempre é possível fazer projeções, mas isso não capta necessariamente as “expectativas”. E, em termos econômicos, expectativa é “quase tudo”.
Em segundo lugar, cumpre ressaltar o papel decisivo que o capital humano exerce nesse tipo de atividades. Um conjunto de dados só é útil se for transformado em informações. Isso não é uma atividade trivial. Portanto, ainda que o modelo de IA avance significativamente, entendemos que sempre haverá espaço para equipes de pesquisadores bem treinados, capazes de não só orientar a busca por dados, mas, principalmente, transformar esses dados em informações. E mais, transmitir isso de forma amigável ao público em geral. Entendemos que a fundação Ipead exerce com maestria esse papel.
Por fim, acabo de perguntar ao ChatGPT informações sobre o próximo Dia dos Namorados. Vejam a resposta: “Lamento, mas, como meu treinamento foi concluído em setembro de 2021, não tenho acesso a informações específicas sobre eventos ou celebrações futuras, incluindo o Dia dos Namorados em Belo Horizonte no ano de 2023. Recomendo que você consulte fontes atualizadas, como sites de eventos locais, notícias locais ou páginas oficiais do governo de Belo Horizonte, para obter informações precisas e atualizadas sobre as celebrações planejadas para o Dia dos Namorados em 2023 na cidade”. Ou seja, o ChatGPT recomenda que você procure o Ipead. Estamos à disposição!
