Belo-horizontinos vão usar o 13º salário para pagar dívidas: presentes, só se sobrar

O pedagogo Breno César de Sousa, de 40 anos, iniciou 2022 já planejando o que fazer com as parcelas do 13º salário a serem recebidas no final do ano. “Essa decisão já foi pensada desde o início do ano”, conta. Na lista de destinação do abono, nada de presentes, festas ou diversão: “defini que quando chegasse o 13º eu iria amortizar as parcelas do carro”, conta.

O planejamento do Breno é o mesmo da maioria dos consumidores em Belo Horizonte. Pesquisa divulgada pelo Instituto de Pesquisas Econômicas, Administrativas e Contábeis da Universidade Federal de Minas Gerais (Ipead/UFMG) nessa sexta-feira (4) mostra que mais de 66% dos entrevistados vão destinar o abono de fim de ano para pagar dívidas (37,61%) ou poupar para outros fins (28,44%).

“No decorrer do ano, essa ideia foi amadurecendo mais ainda porque as coisas foram ficando muito caras. Dar presente (no final do ano) não está nos meus planos. Vou somente quitar dívidas”, completa o pedagogo.

O levantamento mostrou também que, assim como Breno, poucas pessoas estão pensando em usar o dinheiro para presentear. Apenas 0,92% dos entrevistados responderam que vão “realizar compras de presentes de Natal”. É o segundo ano seguido que a opção é a menos citada entre as 11 possíveis na pesquisa.

O corretor de seguros Felipe Vieira, de 34 anos, também está fora desse público. Ele acredita que o recurso vai possibilitar a quitação de 80% das dívidas que possui, concentradas nas mensalidades atrasadas da faculdade. “Vai me aliviar demais. É um dinheiro que eu não estava contando para outra coisa”, diz.

Endividamento
Esse cenário já era esperado por especialistas. O gerente de pesquisas do Ipead, Eduardo Antunes, conta que as famílias estão, cada vez mais, utilizando o 13º para pagamento de dívidas. “Em 2017, por exemplo, 25% afirmaram isso. Hoje já está em 37%. Essa utilização vem gradativamente subindo ao longo dos últimos seis anos. Essa opção sempre aparece em primeiro lugar”, afirma.

Em 2018, quitar dívidas com o 13º era a opção de 25,77% dos entrevistados pelo Ipead, índice que subiu para 29,9% em 2019 e 2020, e chegou a 35% em 2021. Vários fatores explicam o contexto, como o endividamento crescente dos brasileiros e o aumento dos juros, que encarecem ainda mais empréstimos e impactam severamente no custo da dívida.

Cerca de oito a cada dez famílias brasileiras (79,3%) estão com as contas no vermelho, segundo levantamento divulgado pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) baseado em dados de setembro. Foi o terceiro aumento consecutivo em 2022, ano em que o endividamento vem batendo recorde atrás de recorde. Em comparação com o mesmo período de 2021, houve um crescimento de 5,3 pontos percentuais.

Em setembro, a proporção de endividados entre os consumidores com renda inferior a 10 salários mínimos aumentou 0,4% e atingiu 80,3%, o maior patamar da série histórica da pesquisa.

No grupo de famílias com maior renda, a proporção de endividados manteve-se estável em setembro, mas cresceu mais na comparação anual (ampliação de 7 pontos percentuais) do que entre as famílias de menor renda (5 pontos percentuais).

A maior parte das famílias que relatam estar endividadas (85,6%) possui contas a vencer no cartão de crédito, carnês de loja (19,4%) e no cheque especial (5,2%)

E se o endividamento é cada vez maior, a inadimplência não fica atrás. A pesquisa da CNC mostra que, em setembro, o volume de consumidores que atrasaram o pagamento de dívidas atingiu 30%, o maior desde 2010. As famílias de mais baixa renda enfrentam desafios na gestão de seus orçamentos mensais, especialmente porque o nível de endividamento está elevado e os juros maiores pioram as despesas com as dívidas.

As taxas de juros nas linhas de crédito para pessoas físicas cresceram 13,5 pontos percentuais em um ano, de acordo com os dados do Banco Central, chegando à média de 53,9%, a maior taxa desde abril de 2018.

Fonte: Jornal Hoje em Dia – Publicado em 07/11/2022 por Jader Xavier.

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