A disparada da inflação – que deve fechar 2021 em 10,04% – e o achatamento de renda da população fizeram evaporar o 13° dos trabalhadores em Minas. Ontem foi o último dia para os patrões depositarem a parcela final do abono natalino: no total, o benefício injetou R$ 233 bilhões na economia do país, sendo R$ 21,4 bilhões na mineira, calcula o Dieese. Tudo indica, porém, que mal chegou ao bolso, o dinheiro foi comprometido.
Em Belo Horizonte, 88,6% dos moradores estavam endividados em outubro, segundo pesquisa da Fecomércio, e um levantamento da Fundação Ipead/ UFMG mostrou que a maioria dos trabalhadores pretendia usar o salário extra para quitar dívidas e pagar contas em 2021.
Foi exatamente o que fez Alexandra dos Santos, de 50 anos. Funcionária terceirizada de uma instituição de ensino, ela recebeu o 13º em duas parcelas. “Paguei a internet, completei o aluguel do mês, comprei alimentos para casa”. Algum item de luxo? Nem pensar. “O valor do 13° foi o mesmo do ano passado, só que dessa vez deu para menos, porque está tudo bem mais caro”. Pelo pacote de frango que custava, lá nos idos de 2020, R$ 9, Alexandra desembolsou R$ 16,90 nos últimos dias. “Acho que está todo mundo na mesma situação, usando o 13° para pagar contas, independentemente de ganhar muito ou pouco. As coisas encareceram demais”, diz.
O abono natalino está praticamente contado na casa da doméstica Cleunice Firmina da Silva, de 41 anos. “Vou pagar as contas e, se sobrar, guardar”. Padeiro, Joceli Vieira da Silva, de 52 anos, afirma que o pouco que recebeu, já que ingressou no serviço há cerca de dois meses, tendo direito ao benefício apenas proporcional, ajudou a pagar alguns boletos.
Segundo cálculos do Dieese, em Minas o trabalhador do mercado formal recebeu em média R$ 2.589,64 de 13º salário este ano. O valor é um pouco maior entre assalariados do setor público e privado (R$ 2.644,74) e bem inferior para os empregados domésticos com carteira assinada (R$ 1.166,74). Entre aposentados e pensionistas do INSS, o abono ficaria, em média, em R$ 1.380,27.
Endividamento
Pesquisa da Fundação Ipead, da UFMG, mostrou que 35% dos entrevistados pretendia usar o 13ª para quitar dívidas e pagar contas atrasadas em 2021. Na época, mais da metade das pessoas ouvidas (52%) afirmou não receber o salário adicional nem benefício similar.
Poupar para outros fins ou para os impostos de janeiro, como IPTU e IPVA, estava nos planos de 23% e 12% dos entrevistados, respectivamente.
Viagens apareciam na quarta posição, sendo a intenção de 10% dos participantes, contra 3,42% no ano anterior.
Professora de Economia das Faculdades Promove, Mafalda Valente chama atenção para que não sejam criadas novas dívidas em razão das festas natalinas e Réveillon, já que janeiro é a época de pagamento de outros compromissos, como IPTU e IPVA, além do material escolar e a matrícula escolar. “O 13º chegou e tem gente que está usando para pagar dívida, mas muitos vão contrair novas, comprando presentes”.
De acordo com a Fecomércio, em outubro a inadimplência – incapacidade para pagar dívidas já feitas – estava em 38,8% em BH. Além disso, uma em cada cinco pessoas tinha mais da metade da renda comprometida com dívidas.
Fonte: Jornal Hoje em Dia – Publicado em 21/12/2021 – Redação Primeiro Plano.