Só se fala em inflação, mas há itens com preços em queda

Batata (-31,36%), transporte por app (-13,23%) e feijão-carioca (-8,26%) estão em deflação

Enquanto a inflação sobe e tudo parece ficar mais caro, alguns produtos estão ficando mais baratos nas prateleiras. No acumulado dos últimos 12 meses, segundo o IBGE, os hortifrúti, os cursos, a hospedagem e o transporte de aplicativo apresentaram queda de até 35,71%, como foi no caso da cebola. Em contrapartida, os alimentos, em especial as carnes (38,17%) e os combustíveis (43,92%), foram os que mais sofreram alta no Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que teve inflação acumulada em 8,35% – o maior índice em 12 meses desde setembro de 2016 (8,48%).

“Para mim tudo subiu, nada diminuiu, é só alta atrás de alta. Cada conta que chega é uma decepção. Eu tenho procurado consumir o mínimo possível de tudo, porque senão não dá para viver”, desabafa o aposentado João Beato Ferreira, de 69 anos.

Pode até parecer mentira mesmo, mas, no acumulado dos últimos 12 meses, de acordo com o IBGE, itens como batata-inglesa (-31,36%), transporte por aplicativo (-13,23%), ônibus interestadual (-9,79%), feijão-carioca (-8,26%) e seguro voluntário de veículo (-5,54%) tiveram seus preços reduzidos na comparação entre junho de 2021 a junho de 2020. Na lista dos produtos que mais caíram estão ainda os custos com ensino superior (-4,74%), banana-da-terra (-5,47%) e hospedagem (-4,02%).

“Como todo produto, o preço vai variar conforme a oferta e a demanda. Enquanto alguns produtos estão pressionados pelo câmbio, pelo barril do petróleo, alguns itens, até pela pandemia e as restrições de circulação, não estão vendendo quase nada, a demanda está reprimida. A questão é que o peso que esses produtos possuem no orçamento não possuem tanto impacto no dia a dia, como os custos com gasolina, energia elétrica”, explica o analista de pesquisa na fundação Ipead, Eduardo Antunes, que prevê para os próximos meses outras quedas. “Os planos de saúde e a conta de água também vão sofrer revisão tarifária”, pontua.

Prejuízo

Com a queda dos preços das corridas nos transporte de aplicativos, em Belo Horizonte, desde o início da pandemia, o Sindicato dos Condutores de Veículos que Utilizam Aplicativos no Estado de Minas Gerais (Sicovapp) estima que 50% dos motoristas tenham deixado de circular pelas ruas. Se antes um motorista conseguia tirar R$ 400 em seis horas, hoje, para ganhar o mesmo valor, é preciso, no mínimo, 13 horas de trabalho, segundo a presidente da entidade, Simone Almeida. 

“Demanda tem, o problema é que não compensa mais rodar de aplicativo, não tem lucro. O preço pago diminuiu e a gasolina só aumentou. Muitas vezes, o cliente não encontra carro disponível porque tem pouco motorista e os que têm estão escolhendo corridas que sejam vantajosas”, afirma.

Para o economista Feliciano Abreu, as prioridades na hora de gastar dinheiro precisaram mudar. “As pessoas puxam o freio de mão para esse tipo de gasto, porque grande parte da renda precisa ir para o essencial, a alimentação”, avalia.

Baixa procura e sazonalidade influenciam 

Os legumes estão entre os produtos que mais tiveram queda no acumulado nos últimos 12 meses, segundo o IBGE. Entre os 50 itens que mais caíram, 14 estão na categoria dos hortifrúti. Em Belo Horizonte, as principais reduções nos últimos seis meses foram nos preços de maçã-gala (-39,06%), banana-caturra (-38%), batata-inglesa (-27,24%) e tomate (-21,62%).

“Em certos períodos do ano, determinados alimentos são mais consumidos, e outros, menos. No frio, se comem menos tomate, alface e várias hortaliças. O que tem acontecido também é que no início da pandemia tudo subiu. Com as pessoas em casa, a demanda aumentou. Hoje, a situação está se normalizando, e o preço está voltando aos patamares que eram antes”, explica o analista de agronegócios da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Minas Gerais (Faemg), Caio Coimbra. 

Diretora da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis de Minas Gerais (ABIH-MG), Patrícia Coutinho disse que a baixa demanda na pandemia fez os preços do setor recuarem. Na capital, por exemplo, os gastos com excursões caíram 15,51%, de acordo com o Ipead. 

“A hotelaria é um setor que precisa de constantes reformas, manutenções. Se você diminuiu isso, você compromete a estrutura. Há um ano e meio somos um dos setores mais impactados e os custos aumentaram muito, como a alimentação, a água e a energia. Estamos amargando prejuízos”, pontua.

Preços em BH em 2021 

Queda (%)
-Excursões: -17,09
– Lanche: -4,17
– Maçã gala: -39,06
– Hipotensor / Hipocolestertinico: -11,98
– Acesso à internet: -8,91

Aumento (%)
– Gasolina, comum: 27,94
– Empregado doméstico: 5,26
– Automóvel novo: 7,06
– IPTU (Imposto Predial e Territorial Urbano): 4,23
– Plano de saúde, individual: 3,99

*Itens ordenados de acordo com os termos de contribuição

Fonte:Ipead

Fonte: Jornal O Tempo – Publicado por Letícia Fontes em 19/07/2021.

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