Com sucessivos reajustes, botijão de 13kg custa até R$ 96 nas revendas em BH. Em 2020, produto subiu o dobro da inflação. Neste ano, alta já passa de 10%
O preço do gás de cozinha (GLP) foi reajustado em 5,05% nas refinarias das Petrobras na última terça-feira e o aumento já chegou às revendas do produto em Belo Horizonte, onde o botijão de 13kg é vendido, pela nova tabela, ao preço máximo de R$ 96, enquanto o cilindro de 45kg passou a custar R$ 365.
O reajuste é o segundo deste ano e tudo indica que novo aumento deve ser aplicado este mês, impactando ainda mais o custo de vida do brasileiro num contexto de desemprego e queda de renda.
No início do ano, a Petrobras já havia anunciado um aumento de 6% para o GLP, também corrigido em 5% no início de dezembro passado. O gás de cozinha encerrou o ano passado com alta de 9,24%, segundo o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Isso representa mais que o dobro da inflação geral registrada em 2020, de 4,52%. Nas refinarias, o aumento do combustível chegou a 21,9%. Apenas neste ano, a alta acumulada nas refinarias já passa de 10%.
Em Belo Horizonte, segundo levantamento da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas, Administrativas e Contábeis de Minas Gerais (Ipead-UFMG), o gás de cozinha assumiu a oitava posição de peso na inflação entre 242 itens observados na composição do IPCA da capital no período entre 8 de janeiro e 7 de fevereiro. Nos últimos 12 meses, o aumento acumulado do gás em BH é de 8,19%, sendo negociado pelo valor médio de R$ 84,84.
“Somado a essa pressão nos alimentos, que compromete a renda das famílias, principalmente aquelas que têm renda mais baixa, nós tivemos constantes altas no preço do gás, que é um item mais do que necessário nessa nova condição de home office e de crianças em casa”, assinala a economista Thaize Martins, pesquisadora-chefe do IPCA no Ipead-UFMG. O impacto do valor do GLP é ainda maior para a população de baixa renda.
O estudo do Ipead mostra que o peso do produto na inflação das famílias belo-horizontinas que ganham até 5 salários mínimos já alcança a terceira posição.
Os recentes aumentos trazem preocupação para pessoas como Salvani Costa, que é suporte financeiro de uma família numerosa. Salvani é auxiliar de limpeza e mora no bairro Novo São Lucas, região Centro-Sul da capital, com os dois filhos, o genro e dois netos pequenos. Ela conta que, atualmente, apenas ela e a filha estão empregadas e que o auxílio emergencial do governo federal foi o que socorreu a família durante o ano passado.
Com as crianças sem aula, a diarista gasta cerca de um botijão de 13kg por mês, consumo que compromete o já insuficiente orçamento do lar. “As coisas já estão tão difíceis, e agora tem o gás nesse absurdo pra complicar ainda mais a vida da gente”, lamenta.
Redução de preços com “fuzil na mão”
O presidente Jair Bolsonaro afirmou ontem que as empresas revendedoras de gás de cozinha são “cartéis poderosíssimos” e que o valor dos botijões só vai diminuir com “fuzil na mão”. O comentário foi feito a apoiadores em frente ao Palácio do Planalto. “O gás de cozinha está caro, em média R$ 90. O preço na origem é menos de R$ 40 e o imposto federal (sobre o produto) é de R$ 0,70… não… se não me engano, de R$ 0,16. Então, não justifica chegar a R$ 90. São cartéis poderosíssimos, com dinheiro, com bilhões contra mim”, afirmou Bolsonaro.
Em seguida, o presidente sugeriu que precisaria usar armas para o valor do gás de cozinha diminuir. “Alguns, e eu fico chateado pela ignorância, apontam: ‘Tem que resolver’. Só com um fuzil na mão e ninguém quer fazer isso daí”, concluiu. Bolsonaro já determinou que sejam feitos estudos para analisar a possibilidade de ampliação do número de empresas engarrafadoras, especializadas em encher os cilindros de GLP. Para o presidente, a concentração geográfica dessas empresas faz o custo de logística de transporte sobrepesar o valor final do produto.
Em vigor desde 2019, a atual política de preços do gás de cozinha não restringe o número de reajustes (antes era feito a cada três meses). Com isso, o valor do GLP tem se expandido frequentemente e nunca esteve tão alto no país, resultado da atual escalada de preços do petróleo no mercado internacional e pela desvalorização cambial. A alta afeta tanto o preço do cilindro de 13 quilos, destinado ao uso doméstico, que sairá das refinarias por R$ 37,79, quanto o GLP fracionado, utilizado por indústrias, estabelecimentos comerciais e condomínios residenciais.
Embora seja controlado nas refinarias, o preço do gás de cozinha não é tabelado no varejo. A Petrobras fica, em média, com 46% do preço do produto, enquanto distribuidoras e revendedoras respondem por 36%. A incidência de impostos, como o ICMS, corresponde a 18% do valor.
Consumo
A alta no preço do gás reflete pouco no consumo do produto pelas famílias, devido a dificuldade em substituir o botijão por outra fonte de energia. De acordo com relatórios divulgados pelo Ministério de Minas e Energia, embora a demanda do gás tenha mostrado queda em dezembro passado, em janeiro foi observado um aumento de 4,5% no comércio do botijão de 13kg e de 12,8% nas vendas de cilindros maiores, quando comparado ao mesmo período do ano passado.
Pressionado pela população, o governo estuda medidas que visam diminuir a pressão do produto no consumo das famílias. O Ministério da Economia defende a aprovação do novo marco regulatório do gás, que foi aprovado pelo Senado no fim de 2020 e que aguarda nova votação na Câmara. A privatização de refinarias da Petrobras também está no radar da equipe econômica, que argumenta maior concorrência no setor e consequente diminuição dos preços. (Com agências).