O Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de Belo Horizonte apresentou crescimento de 1,25% em dezembro na comparação com novembro. Diante do último resultado de 2020, o avanço do IPCA no acumulado do ano passado foi de 5,03%, acima do centro da meta para o período, que era de 4%.
Os dados foram divulgados pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas, Administrativas e Contábeis de Minas Gerais da Universidade Federal de Minas Gerais (Ipead/UFMG).
O resultado de 2020, conforme explica a coordenadora de pesquisas da entidade, Thaize Martins, foi dentro do esperado, de acordo com o que já estava sendo verificado ao longo dos últimos meses. “O aumento da inflação já previa essa alta acima do centro da meta”, salienta ela.
A pandemia da Covid-19, diz Thaize Martins, com certeza interferiu nos números do ano passado. “Tivemos, ao longo de 2020, principalmente depois de março, uma pressão muito forte dos alimentos”, destaca ela, lembrando que, apesar disso, a maior contribuição no índice geral foi registrada nos itens não alimentares.
De acordo com os dados do Ipead/UFMG, o grupo alimentação apresentou um avanço de 9,49% ao longo do ano passado, o que representa uma contribuição de 1,45 ponto percentual (p.p.) para a inflação de 2020. Já o incremento dos grupos não alimentares foi menor (4,21%), mas com contribuição maior (3,58 p.p.), o que corresponde a 71,12% da contribuição total.
Observando individualmente, os itens alimentícios que mais contribuíram para a alta da inflação no ano passado foram o óleo de soja (117,58% e contribuição de 0,108 p.p.), o arroz (79,42% e contribuição de 0,158 p.p.), a maçã (51,35% e contribuição de 0,066 p.p.), o leite pasteurizado (26,18% e contribuição de 0,176 p.p.) e o lanche (6,28% e contribuição de 0,103 p.p.).
Thaize Martins ressalta que o avanço no preço dos alimentos pode ser atribuído a três fatores: o favorecimento das exportações diante da valorização do dólar frente ao real, o consumo e a estocagem maior de alimentos no lar durante a pandemia da Covid-19 e as condições climáticas desfavoráveis para a produção de alguns alimentos em determinados períodos.
Já no que diz respeito aos produtos do grupo não alimentares que foram os maiores responsáveis pela alta da inflação no ano passado, o maior avanço percentual foi verificado em automóvel novo (19,62% e contribuição de 0,732 p.p.).
Posteriormente vêm excursões (13,06% e contribuição de 0,374 p.p.), empregado doméstico (4,71% e contribuição de 0,298 p.p.), Imposto Predial e Territorial Urbano – IPTU (3,91% e contribuição de 0,222 p.p.) e energia elétrica (5,82% e contribuição de 0,212 p.p.).
Diante de todo esse cenário e dos diversos impactos da pandemia da Covid-19 sobre os preços de 2020, ainda é improvável que mudanças rápidas nesse quadro, como a estagnação ou mesmo a baixa da inflação, ocorram, de acordo com Thaize Martins.
“Há cenários positivos à vista. Estamos dependendo muito da vacina contra a Covid-19 para o controle da pandemia. No entanto, em termos econômicos, não é esperado um reflexo tão rapidamente assim. Por enquanto, não há previsão de queda da inflação, pelo contrário, já há reajustes programados, como o do plano de saúde”, diz ela.
Cesta básica – Os dados do Ipead/UFMG também mostram que o preço da cesta básica apresentou aumento em mais um mês. Em dezembro, a alta foi de 2,45% na comparação com novembro, chegando ao valor de R$ 566,80, o equivalente a 54,24% do salário mínimo. No ano, o incremento foi de 22,09%. “Essa alta acumulada de 22,09% com certeza comprometeu a renda de muitas famílias”, salienta Thaize Martins.
Confiança do consumidor tem queda
Diante de todo cenário que foi vivido em 2020, a confiança do consumidor, que estava se recuperando, baixou novamente. Os dados do Ipead/UFMG mostram que o Índice de Confiança do Consumidor (ICCBH) apresentou queda de 4,24% em dezembro na comparação com novembro. Em 2020, a retração chegou a 6,56%.
No ano passado, o Índice de Expectativa Econômica (IEE) apresentou uma retração de 11,99%. Todos os itens que o compõem tiveram queda: situação econômica do País (-7,27%), inflação (-18,04%) e emprego (-11,14%).
Já o Índice de Expectativa Financeira (IEF) retraiu 3,20% no ano passado, com queda em situação financeira da família em relação ao passado (-5,06%) e em pretensão de compra (-17,73%). Por outro lado, a situação financeira da família apresentou incremento (2,46%).
“O aumento no número de casos de Covid-19 pode ter afetado o humor dos consumidores”, destaca coordenadora de pesquisas da entidade, Thaize Martins.
Juros – Por fim, no que diz respeito às taxas de juros praticadas em dezembro, os números do Ipead/UFMG mostram que as taxas médias para as pessoas físicas apresentaram alta na maior parte dos setores na comparação com novembro. O destaque foi para construção civil imóveis na planta (40,68%).A maior parte das taxas para pessoas jurídicas também apresentou alta, sendo que a maior foi registrada em capital de giro (26,72%). Em relação às taxas de captação, a maioria apresentou estagnação ou crescimento. O maior deles foi em fundos de longo prazo (118,18%). (JS)
Fonte: Jornal Diário do Comércio – Publicado em 07/01/2020 por Juliana Siqueira.