Gasto de R$ 520,79 foi influenciado por pressão generalizada de preços dos alimentos. Aumento alcança 23,64% nos últimos 12 meses, quase cinco vezes acima da inflação acumulada no período
O custo da cesta básica em Belo Horizonte chegou a R$ 520,79 em outubro, maior valor já verificado na capital mineira desde 1994, segundo pesquisa da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas, Administrativas e Contábeis de Minas Gerais (Ipead), vinculada à UFMG. Os gastos das famílias com os 13 alimentos essenciais que compõem a cesta subiram pelo terceiro mês, com alta de 6,12% frente a setembro e de 12,18% neste ano, sob pressão generalizada de preços
O fôlego dos reajustes surpreende, comparado à inflação medida em BH, de 0,69% no mês passado e 3,11% em 2020, de acordo com o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) da Fundação Ipead.
Do conjunto de produtos da cesta básica, as remarcações de janeiro a outubro variaram de 3,55% para o preço da chã de dentro a 90,11% do custo do óleo de soja. Como as famílias já vêm observando desde o início da pandemia, se destacam, ainda, as altas do arroz (58,71%), tomate (41,67%), leite pasteurizado (24,67%) e feijão Carioquinha (24,33%).
Considerando os últimos 12 meses, a despesa com a chamada ração essencial em BH alcança 23,64%, quase cinco vezes acima do IPCA na capital, que acumulou alta de 4,73%. A disparada dos preços dos alimentos tem sacrificado as famílias de menor renda, como reflexo de diversos fatores ligados a fenômenos da economia após a pandemia de COVID-19 e responsáveis por levar o custo da cesta básica de BH ao maior nível em 26 anos. Uma das principais explicações está no desempenho excepcional das exportações de arroz, soja e derivados e das carnes, impulsionado pela valorização do dólar.
Pelas leis da economia, a elevação das exportações reduz o abastecimento dentro do país, o que exerce pressão sobre os preços internos. A valorização do dólar frente ao real, que passou de 30% dos últimos 12 meses, também influencia os reajustes no país, ao estimular as vendas externas, desequilibrando a oferta no mercado brasileiro. Analistas de comércio exterior também atribuem a alta aos efeitos da grande demanda da China por alimentos, que movimenta as exportações.
Notificação
Em setembro, incomodado com o descolamento dos preços da comida, o presidente Jair Bolsonaro pediu “patriotismo” aos donos dos supermercados no sentido de conter os aumentos e o Ministério da Justiça pediu explicações aos supermercadistas. Eles, por sua vez, culparam os distribuidores, que responsabilizaram os produtores. Bolsonaro e o ministro da Economia, Paulo Guedes, atribuíram, então, os fartos reajustes à demanda maior da população de baixa renda por alimentos.
A justificativa foi associada ao pagamento do auxílio emergencial, primeiro de R$ 600 e depois reduzido à metade. A ajuda financeira aos trabalhadores sacrificados pela pandemia termina em dezembro. O governo isentou de tributos até dezembro a importação de 400 mil toneladas de arroz em casca e beneficiado, com o objetivo de promover concorrência no mercado interno e evitar a alta dos preços, mas a medida não trouxe resultado.
O IPCA de outubro, resultado da pesquisa de preços dos produtos e serviços divulgados pela Fundação Ipead, e agrupados em 11 itens agregados, mostra a contínua pressão dos alimentos no bolso d consumidor. Subiram, em média, 6,08% os preços do grupo de alimentos in natura; 3,59% para os chamados alimentos de elaboração primária (arroz, carnes e leite).
Houve destaque, ainda, para gastos com vestuário e complementos (2,50%); e alimentos industrializados (2,34%). Não há expectativa de queda dos preços da alimentação, em especial, nesta época do ano, quando as festas de Natal e Ano-novo costumam promover aumento de demanda no varejo e consequência aumento dos preços.
Expectativas
O Índice de Confiança do Consumidor (ICC-BH), também medido pela Fundação Ipead, tem ligeira variação de 0,04% no mês passado, atingindo 36,45 pontos. Foi o maior nível observado após implementação das medidas de combate à pandemia da COVID-19. O indicador avançou de 30,76 em abril para 33,44% em maio, 33,15 em junho, 35,20 em julho, 36,26 em agosto e 36,44 em setembro. A despeito disso, ainda permanece abaixo da linha que separa a situação de pessimismo do otimismo, inferior aos 50 pontos.
Segundo a Fundação Ipead, o Índice de Expectativa Econômica (IEE) apresentou queda de 0,35% em comparação com o mês anterior, influenciado pela piora na percepção dos consumidores quanto à Inflação, com recuo de 6,96%. O Índice de Expectativa Financeira (IEF) sofreu aumento de 0,25% frente a agosto, sendo o item pretensão de compra o que mais contribuiu, com alta de 12,18%. Ele atingiu o patamar de 37,26 pontos, o maior observado desde abril/2020. O ICC é fruto das avaliações colhidas junto a 210 consumidores de BH que fazem compras com frequência.
Fonte: Jornal Estado de Minas – Publicado em 05/11/2020 por Elian Guimarães.