Repercussão da pesquisa da cesta básica do mês de agosto de 2020

Itens básicos, como leite e arroz, devem manter alta de preços pelo resto do ano

Especialistas do setor avaliam que, mesmo que haja quedas, preços já subiram tanto que não voltarão rapidamente a patamares anteriores à pandemia

Todos os anos, é esperado que o preço de alguns alimentos nas prateleiras de supermercados se elevem devido às entressafras — o período entre a produção do item, como o intervalo entre colheitas. Mas, em 2020, a pandemia de Covid-19 se tornou um fator a mais nessa equação e faz preços do arroz, leite e óleo de soja dispararem, por exemplo. Para especialistas ouvidos por O TEMPO, não há tendência de queda significativa nos valores pelo menos até o final deste ano. Ao mesmo tempo, eles preveem que alguns produtos se mantenham com valor estável ou alguma queda, como os itens de hortifruti.

O analista de agronegócios da Federação do Sistema da Agricultura e Pecuária de Minas (Faemg), Caio Coimbra, aponta o leite como exemplo da dinâmica de aumento de preços neste período. “Do meio do ano até outubro, o leite costuma ficar mais caro naturalmente, porque é um período sem chuva, o gado fica sem pasto e o produtor tem que utilizar um componente mais caro para alimentá-lo, fazendo silagem do milho. Mas agora o leite está mais caro pelo efeito da pandemia, pois a população ficou em casa e aumentou a demanda”, diz o especialista. Segundo um levantamento do Instituto de Pesquisas Econômicas, Administrativas e Contábeis (Ipead), o leite pasteurizado teve aumento de pouco mais de 15% desde o começo deste ano em Belo Horizonte.

A pesquisadora do Ipead, Thaize Martins, acende o alerta para as próximas altas que devem se acumular nos meses seguintes: “O que se espera nesta reta final do ano é que alimentos como carnes voltem a aumentar, já que a demanda sobe. Itens que dependem de commodities, valorizadas pelo câmbio, pela alta do dólar, também podem subir. Dependendo do trigo, o pão francês vai apresentar maiores altas”. 

A dinâmica do comércio global é um dos fatores que explicam o aumento do arroz, por exemplo, cujo pacote chega a R$ 30 na Grande BH, segundo pesquisa do Mercado Mineiro. “Nem é mais a entressafra que explica a alta no arroz. No ano passado, o Brasil produziu 10 milhões de toneladas de arroz e, neste ano, a previsão é de 11 milhões. O consumo aumentou no ano inteiro, alguns países na Ásia tiveram problemas climáticos e começaram a importar mais. Junta-se isso a aumento do consumo interno e entressafra, e o preço naturalmente aumenta”, detalha Coimbra, da Faemg. 

Ele e Thaize Martins, do Ipead, concordam que o arroz não deve baratear muito nos próximos meses, assim como leite e óleo de soja — ainda assim, o equilíbrio do mercado tende a buscar alguma diminuição, segundo Coimbra. Mesmo que os valores diminuam de um mês a outro, dificilmente chegarão ao patamar anterior à pandemia, avalia Martins, citando o caso do feijão carioquinha, cujo preço recuou quase 10% em agosto, em relação ao mês anterior, mas já acumula alta de aproximadamente 15% desde o início do ano na capital mineira.

Hortifruti depende mais de condições climáticas e tende a se manter estável, conforme explicam especialistas

Coimbra destaca que não há previsão para aumento dos valores no hortifruti em geral — por mais que itens fora de estação, como a mexerica, naturalmente estejam mais altos neste período. Como crescem melhor com irrigação artificial, que pode ser controlada, os itens dessa categoria se beneficiam do atual período seco no Sudeste e só tendem a ter altas significativas caso ocorram chuvas atípicas nesta primavera, conforme explica o analista de agronegócios. 

A economista Thaize Martins reforça: “O tomate Santa Cruz, por exemplo, teve queda em junho, julho e agora em agosto teve alta de 20%. É um item que oscila muito no ano e tem mais relações com as condições climáticas do que com a demanda”.

Por fim, Coimbra destaca que a “culpa” pelo aumento de preços não recai apenas sobre supermercados ou produtores, mas que toda a cadeia de produção interfere nos valores. “O lucro de cada elo da cadeia tem aumento do lucro, é uma coisa normal. Por todos esses fatores, há pressão de aumento em todos eles e para o consumidor”, encerra.

Fonte: Jornal O Tempo – Publicado em 08/09/2020 por Gabriel Rodrigues.

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