“A solução é pesquisar, reduzir o consumo de determinados produtos ou substituí-los por outros”, aconselha o representante comercial Sérgio Soares, de 55 anos, diante de duas estatísticas divulgadas ontem sobre o custo da cesta básica em Belo Horizonte.
Na primeira, a Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas, Administrativas e Contábeis de Minas Gerais (Ipead/UFMG) constatou que o preço da chamada ração mínima quase dobrou em 10 anos.
Na segunda, o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) concluiu que o morador da capital que recebe um salário mínimo (R$ 998) trabalha quase 94 horas por mês para adquirir uma cesta básica.
“O preço dela quase dobrou em 10 anos. Avançou de R$ 225,76, em maio de 2009, para R$ 445,09 no mês passado (aumento de 97%)”, disse Thaize Martins, coordenadora de pesquisas da Fundação Ipead.
Significa dizer que o morador da capital compromete o equivalente a 44,60% de um salário mínimo para comprar uma cesta mínima necessária ao sustento de um adulto.
Em julho do ano passado, quando a cesta era negociada a R$ 373,61 e o piso nacional estava fixado em R$ 954, a relação era de 39,16%.
“Considero um percentual alto de comprometimento da renda. Alguns alimentos tiveram o valor pressionado de lá para cá. É o caso da bata inglesa, que subiu 102,38% no intervalo de um ano, de junho de 2018 a maio de 2019”, comparou a especialista.
Sérgio Soares, o representante comercial que sugere ao consumidor pesquisar ou até substituir produtos em época de disparada do preço, sentiu no bolso o salto da tubérculo: “Tem que gastar sola de sapatos, ir de um lugar para o outro atrás dos melhores preços, de promoções. Não pode é ficar parado”.
A situação não é mesmo fácil, como concorda Renato Araújo, de 43 anos. Casado e pai de seis filhos, ele ganha a vida como gerente de um sacolão na avenida Tereza Cristina. Daí, explica, acompanha de perto o vaivém dos preços dos hortifrutigranjeiros tanto aos lojistas quanto aos consumidores.
“Quem sabe se a reforma tributária sair, os preços não ficam melhores?”, questiona Araújo.
A sugestão dele é uma opção à disparada dos preços, mas o assunto é muito mais complexo.
O Dieese, por exemplo, defende o aumento do salário mínimo como forma de garantir o previsto no inciso IV do artigo 7 da Constituição Federal, o qual diz que o piso precisa “atender as necessidades vitais básicas (do trabalhador) e às de sua família com moradia, alimentação, educação, saúde, lazer, vestuário, higiene, transporte e previdência social (…)”.
Desta forma, o Dieese estima, mensalmente, o valor necessário do que deveria ser o piso nacional no Brasil. Em maio passado, o valor deveria ser de R$ 4.259,90. “Ou 4,27 vezes o salário mínimo, de R$998,00”, esclareceu o supervisor técnico do Departamento,Fernando Duarte.
Os valores da cesta básica calculadas pelo Dieese (R$ 424,85) e Fundação Ipead (R$ 445,09) são diferentes em razão da metodologia de pesquisa, mas ambos levantamentos têm como um dos objeivos alertar ao poder público sobre o elevado percentual do custo dela em relação ao piso nacional.
“Estimamos que uma pessoa trabalha 220 horas no mês. Se ela receber o salário mínimo, teve de se dedicar 93 horas e 39 minutos para comprar a cesta básica. Quando você pega o piso nacional e desconta o INSS, este valor cai de R$ 998 para R$ 918,16. Se o trabalhador gasta R$ 424,85 com a cesta básica, compromete 46,27% de sua renda. É um peso significativo”, alertou o supervisor técnico do Dieese.
Fonte: Jornal Hoje em Dia – Publicado em 07 de junho de 2019 por Paulo Henrique Lobato.