Executivo municipal informou que ‘a gratuidade será custeada por meio da remuneração complementar’
O aumento da tarifa de ônibus além do esperado é um dos possíveis impactos que podem ocorrer em Belo Horizonte após o prefeito Álvaro Damião (União) anunciar a gratuidade da passagem aos domingos e feriados na capital mineira. É o que indica um estudo realizado pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas, Administrativas e Contábeis de Minas Gerais (IPEAD/UFMG).
O gerente de pesquisa da IPEAD/UFMG, Eduardo Antunes, explica que, de novembro de 2024 a outubro de 2025, aproximadamente 270 milhões de pessoas utilizaram o serviço de transporte por ônibus. “Desses, 13 milhões usaram o ônibus aos domingos e feriados. A estimativa é de uma redução de 4,69% no gasto com passagens”, afirma.
Conforme apontado no estudo, a isenção do pagamento da tarifa aos domingos e feriados tende a estimular a circulação de pessoas com restrição orçamentária por meio do serviço público. “O transporte urbano é caro e, para as pessoas com restrição orçamentária, pagar a passagem de ônibus pesa. Ter a gratuidade estimula a usar o sistema que, de outra forma, não seria utilizado”, detalha Antunes.
O estudo também destaca que o trabalhador autônomo terá a vida facilitada. “Essa pessoa tem que fazer o dispêndio do próprio bolso, algo que não aconteceria se ela estivesse em alguma empresa. Muitos autônomos usam os domingos e feriados para complementar a renda; logo, não ter que gastar com a passagem de ônibus já ajuda”, diz Antunes.
‘Não existe almoço grátis’
Diante da gratuidade das passagens no período determinado pelo chefe do Executivo municipal, o gerente de pesquisa da IPEAD/UFMG destaca que é preciso ficar atento, pois “não existe almoço grátis”.
“O valor vai ter que ser repassado para outros setores, pois haverá redução no orçamento. Será preciso arrecadar de outras partes para suprir [o custo]. Podemos esperar — o que não é nada garantido — que se tenha aumento de tarifa além do normal. Se isso acontecer, ficará elas por elas, ou seja, a medida se anulará. É válido lembrar que na época de fim de ano sempre temos reajustes. Ainda não se sabe se acontecerá neste ano”, alerta o pesquisador.
Antunes ressalta que é preciso aguardar para saber se a medida vai significar avanço social ou se será apenas uma troca: “Não pague nada no domingo e compense nos outros dias da semana”, questiona.
Defesa da qualidade
O economista e integrante do Tarifa Zero BH, André Veloso, afirma que “o benefício não pode justificar o aumento da tarifa”. “O anúncio foi feito pelo prefeito, mas não sabemos se vai ter aumento de frota. Temos que fornecer ônibus gratuitos de qualidade, e isso inclui aumentar a oferta do sistema. A tarifa zero é super bem-vinda, mas queremos saber como esse benefício vai ser pago. É preciso um estudo de impacto. A gratuidade aos domingos e feriados não pode impactar o trabalhador no seu dia a dia”, defende Veloso.
Posicionamento da PBH
Procurada pela reportagem e questionada se há possibilidade que a isenção das passagens acarrete em mais aumento no valor da tarifa, a Prefeitura de Belo Horizonte não respondeu. O Executivo municipal somente informou que “a gratuidade será custeada por meio da remuneração complementar”.
