Leve melhora no índice reflete percepção mais positiva sobre situação financeira das famílias, mas inflação e incertezas no emprego ainda travam decisões de compra mais ousadas
O Índice de Confiança do Consumidor de Belo Horizonte (ICC-BH) registrou uma leve alta de 0,41% em agosto de 2025, alcançando 42,35 pontos, segundo levantamento da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas, Administrativas e Contábeis de Minas Gerais (Fundação Ipead), da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Apesar do avanço, o índice segue abaixo da linha dos 50 pontos, que separa o pessimismo do otimismo, indicando que o consumidor belo-horizontino ainda está cauteloso.
A confiança acumula queda de 2,89% no ano e alta de 8,32% nos últimos 12 meses. De acordo com o gerente de pesquisa da Fundação Ipead, Eduardo Antunes, a leve recuperação pode estar ligada a fatores pontuais.
“Essa recuperação momentânea pode ser influenciada por fatores sazonais como aumentos temporários de renda, por exemplo, antecipação de décimo terceiro, empregos temporários ou uma estabilização em certos preços, conforme observado em tendências passadas”, explica.
Situação financeira das famílias impulsiona confiança do consumidor em BH
O avanço do ICC-BH em agosto foi puxado por três componentes ligados à expectativa financeira das famílias:
- Situação financeira em relação ao passado (+5,23%)
- Situação financeira atual (+3,79%)
- Pretensão de compra (+1,53%)
Dos seis componentes analisados, quatro permanecem abaixo dos 50 pontos, o que reforça o tom de pessimismo. “Esses dados indicam que, embora o consumidor veja uma melhora momentânea em sua situação financeira, o sentimento geral ainda é de incerteza”, avalia Antunes.
Para o pesquisador ainda existem barreiras importantes para que a confiança retorne a níveis mais sólidos. “Os desafios específicos são controlar a inflação, melhorar as perspectivas de emprego, estabilizar a economia nacional e estimular a disposição para compras sem causar mais efeitos nocivos associados à inflação”.
Inflação, economia e emprego puxam confiança para baixo
A confiança do consumidor da Capital caiu nos componentes relacionados ao ambiente macroeconômico. O índice referente à inflação recuou 4,97%, enquanto a percepção sobre a situação econômica do País caiu 3,53% e a avaliação do emprego teve queda de 2,53%.
“O cenário de juros elevados e inflação persistente continua a corroer o poder de compra das famílias. Sem avanços nessas áreas, a confiança deve permanecer fragilizada”, completa o gerente de pesquisas da Fundação Ipead.
Cautela marca confiança do consumidor em diferentes setores
A pesquisa mostra que, mesmo com a ligeira melhora na pretensão de compra, os consumidores continuam priorizando itens de menor valor ou necessidade imediata. “Esse sinal misto pode levar a um comportamento cauteloso do consumidor, com aumento modesto nos gastos voltados a itens essenciais ou de curto prazo”, aponta Antunes.
Apesar da presença dos veículos entre os itens mencionados, a baixa confiança ainda deve manter o consumo de bens duráveis e de maior valor em ritmo lento.
Sobre os setores que podem sentir mais o impacto da confiança instável, Antunes destaca que “o comportamento do consumidor deve permanecer com restrição, além de direcionamento limitado aos setores estratégicos como o comércio (supermercados, farmácias, serviços pessoais) e serviços ligados ao lazer de menor custo”.
Em contrapartida, ele alerta que áreas como mercado imobiliário e automotivo ainda devem sentir a retração. “Setores que exigem maior gasto e prazo mais longo, como aquisição de imóveis e veículos, podem ter seus planos adiados neste momento”, diz.
Mulheres lideram intenção de compra na Capital
A pesquisa revela ainda que as mulheres seguem mais dispostas a comprar do que os homens em Belo Horizonte. Cerca de 75,67% delas demonstraram intenção de consumo nos próximos três meses, frente a 71,18% dos homens.
O levantamento também aponta quais produtos os consumidores pretendem adquirir nos próximos três meses. Os mais citados foram:
- Vestuário e calçados: 15,93%
- Veículos: 10,18%
- Turismo e eletrodomésticos (entre mulheres) e móveis (entre homens) também aparecem entre as prioridades
Com base no atual cenário, a expectativa é de que setores como supermercados, farmácias, serviços pessoais, turismo e lazer de baixo custo sejam os mais beneficiados nos próximos meses, impulsionados principalmente pelo 13º salário e benefícios de fim de ano.
Já setores que dependem de maior disposição para o consumo a longo prazo como construção civil, mercado imobiliário e automotivo, podem continuar sentindo os efeitos de uma confiança fragilizada.