Índice de Confiança do Consumidor calculado pela Fundação Ipead mostra queda de 4,49% em junho, com destaque para a menor pretensão de compras em BH
A confiança dos consumidores de Belo Horizonte voltou a retrair em junho de 2025. É o que revela o mais recente Índice de Confiança do Consumidor (ICC-BH), calculado mensalmente pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas, Administrativas e Contábeis de Minas Gerais (Fundação Ipead), da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), que registrou queda de 4,49% no mês, atingindo 40,75 pontos numa escala de 0 a 100. O resultado reforça a percepção de cautela e incerteza, especialmente em relação a compras que exigem financiamento ou maior planejamento financeiro.
A pesquisa mostra que quatro dos seis componentes do Índice de Confiança do Consumidor de BH apresentaram retração:
- Pretensão de Compra teve a maior queda, com −15,41%,
- Situação Financeira da Família em relação ao passado (-6,95%)
- Situação Econômica do País (-4,99%)
- Situação Financeira Atual da Família (-4,87%)
No entanto, apesar do cenário de recuo, dois indicadores melhoraram: emprego (2,11%) e inflação (0,42%). Para o economista Paulo Casaca, esse comportamento revela um consumidor que, embora enfrente restrições orçamentárias, ainda mantém expectativas positivas no médio prazo.
“A confiança do consumidor recuou levemente, mas isso não é resultado de uma situação completamente ruim. Ele perdeu confiança em alguns pontos, mas não em todos”, destaca.
Juros altos travam consumidor e aumentam endividamento
A queda acentuada na intenção de compra — que permanece abaixo de 50 pontos — indica um cenário de maior prudência por parte das famílias belo-horizontinas, especialmente diante de juros elevados e crédito mais caro.
“A queda de 15% na pretensão de compra sinaliza um movimento mais precaucional. A Selic elevada impacta diretamente o desejo de adquirir bens duráveis como imóveis e veículos. O consumidor evita compras financiadas e dá preferência ao que é essencial ou pode ser pago à vista”, explica o economista.
Casaca também relaciona esse comportamento ao aumento do endividamento, apontado em pesquisas recentes do Banco Central. A combinação de crédito restrito e incertezas inflacionárias leva o consumidor a reduzir gastos e postergar decisões de consumo.
“Há um impacto negativo por conta do endividamento e da alta taxa de juros. Grandes compras e financiamentos foram diretamente afetados, o que contribui para a queda da confiança”.
Mercado de trabalho e inflação melhoram confiança do consumidor
Mesmo com o pessimismo predominando na maioria dos componentes do ICC-BH, o levantamento captou um olhar mais otimista do consumidor sobre emprego e inflação em Belo Horizonte. A percepção de que os preços dos alimentos têm perdido força e a estabilidade do mercado de trabalho ajudam a compor um cenário menos negativo do que o número geral poderia sugerir.
“Embora ele considere que a situação financeira não melhorou no último mês, há uma expectativa de que inflação e emprego possam ajudá-lo no futuro próximo. A melhora sistêmica do mercado de trabalho pode contribuir para uma recuperação da confiança”, afirma Casaca
Consumidor se concentra em itens de menor valor
Mesmo com a queda na intenção de compra, o estudo revela que os segmentos mais mencionados continuam sendo vestuário e calçados (19,11%), seguidos por veículos (8,89%) e eletrodomésticos (8%). O padrão reforça que o consumo está voltado a itens que não exigem crédito e têm menor comprometimento financeiro.
“Itens como roupas e calçados não dependem de crediário. Isso mostra um consumidor focado no que pode pagar no curto prazo, e também disposto a poupar, aproveitando os juros elevados como poupador e não como investidor”, analisa o economista.
Outro dado relevante apontado pelo levantamento sobre a confiança do consumidor é que as mulheres apresentaram maior intenção de compra (78,94%) do que os homens (72,07%), com foco nos segmentos de vestuário, móveis e eletrodomésticos.
Expectativa do consumidor segue incerta para futuro próximo em BH
Embora o índice ainda esteja longe da faixa dos 50 pontos – que separa o pessimismo do otimismo -, Casaca evita afirmar que há uma tendência consolidada de desalento.
“Não podemos cravar que há uma trajetória de pessimismo. Tudo vai depender dos próximos capítulos da economia. A taxa de juros continua alta e não há previsão concreta de quando o Banco Central voltará a reduzir a Selic. Além disso, temos fatores externos como guerras e instabilidade climática que impactam os preços dos alimentos”, explica Casaca.
Para que a confiança do consumidor volte a níveis mais elevados, o economista aponta a necessidade de melhora em fatores como redução de juros e controle sustentável da inflação.
“Para a gente obter uma condição de confiança acima desse patamar, eu diria que a gente precisa melhorar esses quesitos que são sistêmicos e que dificilmente mudarão no curto prazo”, finaliza.
Fonte: Diário do Comércio / Economia / Publicado em 30/06/2025 por Ana Paula Moreira