Juros mais altos devem reduzir ritmo de investimentos e contratações em 2025

Aumento no ritmo de aperto monetário poderá impactar também a geração de empregos no setor

Com o movimento de alta na taxa básica de juros (Selic), investimentos do varejo e, logo, o ritmo das contratações do setor devem perder intensidade no próximo ano, segundo economistas ouvidos pelo Diário do Comércio. Na quarta-feira (11), o Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) anunciou a elevação da taxa Selic de 11,25% para 12,25% ao ano. Foi a terceira alta seguida da Selic. Com isso, a taxa retornou ao nível de dezembro do ano passado, quando estava em 12,25% ao ano.

A economista da Câmara de Dirigentes Lojistas de Belo Horizonte (CDL/BH), Ana Paula Bastos, avalia a dosagem da elevação da taxa, de 1 ponto percentual, como alta para o momento positivo da economia brasileiro, além dos avanços, como o novo pacote fiscal e aprovação da reforma tributária.

Ela acrescenta que a inflação oficial do País perdeu força na passagem de outubro para novembro e fechou o último mês em 0,39%, conforme dado do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

A especialista diz que o efeito da alta dos juros definido na última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) deve acontecer de quatro a seis meses, ou seja, no próximo ano. “Com o crédito mais caro, os novos investimentos produtivos, que geram emprego e renda, são desestimulados, enquanto que os investimentos no mercado financeiro se tornam mais atrativos”, explica.

Para a economista da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de Minas Gerais (Fecomércio MG), Gabriela Martins, o aumento da Selic pode ser comparado a um remédio amargo. “Por uma ótica, ele é necessário para conter o avanço da inflação, por outro lado, ele é amargo para a economia, já que ele freia a economia”, diz.

Na avaliação de Gabriela Martins, não houve um exagero no aumento. No entanto, a elevação da taxa vai ocasionar efeitos negativos futuros para a economia, em 2025, como a redução no ritmo das contratações, já que os juros altos estimulam os investimentos financeiros em detrimento dos investimentos no negócio, como a compra de máquinas ou aumento do estoque.

Dessa forma, o cenário para 2025, conforme a economista da Fecomércio MG é que os investimentos do varejo e as contratações do setor percam intensidade. “E isso não apenas no varejo, mas também em outros setores, como o de serviços, atacado e a indústria”, diz.

Ela acrescenta que, ao mesmo tempo que a alta nos juros freia a economia, por outro lado traz investidores de fora, o que pode equilibrar a questão da desvalorização do real.

O economista da Federação das Câmaras de Dirigentes Lojistas do Estado de Minas Gerais (FCDL-MG), Vinícius Silva, destaca que o patamar de aumento (1 ponto percentual) é raro e foi pautado na análise de mercado, tanto interno como externo. “Em alguns momentos, é necessário dar um passo para trás para depois poder dar dois passos para frente”, diz.

Ele observa que entre os reflexos da elevação da taxa está o crédito mais caro que, por sua vez, tem impactos no consumo e no investimento produtivo, com redução no ritmo das contratações em 2025. “Além disso, com crédito mais caro, se o consumidor ficar inadimplente, vai gastar mais com os juros e, logo, vai ter menos recursos para consumir”, diz. Para o economista é preciso ficar atento à inflação, já que o seu descontrole corrói a renda do consumidor.

Efeito imediato da alta dos juros

O economista da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas, Administrativas e Contábeis de Minas Gerais (Ipead), Diogo Santos, alerta que o impacto imediato é no refinanciamento da dívida pública, que passa a ficar mais cara, enquanto que o reflexo na inflação, que é o principal objetivo para a alta da Selic, acontece num prazo mais longo, de até um ano. “Lembrando que o reflexo não é uniforme”, observa.

Nesta quinta-feira (12), a Fundação Ipead divulgou a prévia da inflação na capital mineira. O Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de Belo Horizonte registrou elevação de 0,14% na primeira quadrissemana de dezembro. O resultado representa uma desaceleração em relação à quadrissemana anterior, quando o índice apresentou alta de 0,22%, e também em relação ao mês anterior (0,60%).

Para ele, a mensagem passada pelo Banco Central (BC) com a medida foi mais dura que a esperada pelo mercado financeiro, que esperava uma elevação de 0,75 ponto percentual na Selic. “Com os juros mais altos, a tendência a médio prazo é que o lucro das empresas seja aplicado no mercado financeiro, deixando de ser reinvestido no aumento da produtividade e na modernização dos negócios”, observa.

Diogo Santos acrescenta que, com demanda e investimentos menos intensos, o setor produtivo não vai precisar intensificar as contratações em 2025. “A ideia com a elevação dos juros é que é necessário limitar o crescimento da economia”, diz.

Fonte: Jornal Diário do Comércio – caderno de Economia – Reportagem Juliana Gontijo – Publicado em 13/12/2024.

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