Previsão é do Ipead/UFMG; etanol mais caro pode causar efeito em toda a cadeia produtiva
O aumento de R$ 0,41 no litro da gasolina e de R$ 0,78 no diesel, anunciado pela Petrobras nesta semana, vai impactar — e muito — a inflação em Belo Horizonte. A previsão é da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas, Administrativas e Contábeis de Minas Gerais (Ipead/UFMG). Segundo o economista do Ipead Diogo Santos, todo o efeito positivo que os belo-horizontinos estavam sentindo com a queda da inflação, devido ao retorno da passagem de ônibus para R$ 4,50, vai se dissipar. “Agora, vamos acompanhar a elevação dos preços”, explica.
Santos detalha que o reajuste da Petrobras tem dois impactos sobre a inflação. O primeiro, da gasolina, é direto, e atinge as pessoas que utilizam os carros no dia-a-dia. “O abastecimento fica mais caro. A gasolina é o sétimo item com maior peso no índice de inflação de Belo Horizonte. Portanto, um aumento de 16,3%, como anunciado, vai ser percebido [no orçamento] pelas famílias”, detalha.
Outro impacto é indireto e decorre da elevação no preço do diesel. O economista alerta que há um repasse por toda a cadeia logística, passando pelos custos dos fretes e chegando às gôndolas dos supermercados. Atualmente, o modal rodoviário é responsável por mais de 60% de todo o transporte de tudo que é produzido e consumido no Brasil, segundo dados da Confederação Nacional dos Transportes. “Esse é um tipo de repasse que não dá para se prever antecipadamente, mas é esperado que esses itens que têm um custo de transporte elevado, embutido, também sofram possíveis reajustes”, observa o economista.
IPCA de BH pode aumentar 0,65 pontos percentuais
De acordo com o Ipead, em um cenário hipotético em que a elevação de preços seja integralmente repassada para os consumidores finais, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de BH, que mede a inflação oficial do país, pode aumentar 0,65 pontos percentuais no acumulado de quatro semanas. O IPCR, índice que considera famílias com renda de 1 a 5 salários mínimos, aumentaria 0,50 pontos percentuais.
Nas últimas quatro semanas, o IPCA de BH apresentou uma queda de 0,42%. Segundo o Instituto, se a elevação de preços da gasolina e do diesel estivessem ocorridos neste último período e tivesse sido integralmente repassada para os consumidores, o IPCA teria aumentado 0,23%. No caso do IPCR, ao invés de cair 1,58%, teria caído 1,08%.
Postos de BH e região metropolitana anteciparam o reajuste nas bombas
Apesar da Petrobras informar que o reajuste dos preços só passaria a valer nas distribuidoras na quarta-feira (16), já na terça-feira, a reportagem de O Tempo flagrou postos de combustíveis de Belo Horizonte e região metropolitana vendendo gasolina mais cara. No Auto Posto Expresso, da bandeira Shell, na Via Expressa, no Calafate, o litro da gasolina estava sendo vendido por R$ 5,64.
Segundo Feliciano Abreu, do site Mercado Mineiro, após os preços elevarem nas bombas após o anúncio do reajuste, alguns postos acabaram abaixando os valores novamente nesta semana, caso do Posto Aguia V, Alé, no Nova Suíssa, na região Oeste de BH. “Teve posto que era R$ 4,99 foi para R$ 5,69 e hoje é R$ 5,47. Nunca abasteça após um aumento”, aconselha.
Vale lembrar que os postos de combustíveis são livres para estipular seus preços e o reajuste pode ser repassado na íntegra ou para mais ou menos.
Em maio, a Petrobras anunciou uma mudança na sua política de preços: caiu o fim da política de paridade de importação (PPI) do petróleo, que equiparava o preço dos combustíveis aos valores internacionais. Hoje, a empresa ainda leva em conta a base internacional, mas outros fatores internos, como valores regionais e margens da própria companhia, também pesam na precificação.
Fonte: Jornal: O Tempo – Editoria de Economia – Publicado em 19/08/2023 por Shirley Pacelli.
