Dados da Fundação Ipead/UFMG indicaram, na semana passada, que o Dia dos Pais deste ano, a ser celebrado no domingo, em meio à pandemia da Covid-19, deve ser o pior para o comércio e o setor de serviços da capital desde 2016. A queda na intenção de compras da população seria de 23,9% sobre o período em 2019. Além disso, apenas três a cada dez entrevistados (33%) mostraram-se dispostos a presentear os pais. E gastando R$ 79, em média – valor inferior ao do ano passado (R$ 86) e o menor em cinco anos.
Contudo, com a decisão da prefeitura de permitir a reabertura de estabelecimentos da capital de hoje a sábado, véspera do dia dedicado aos pais, mesmo sob condições e horários diferenciados, as perspectivas melhoraram para os empresários do setor.
“Muitas empresas têm feito 50% ou 60% do seu faturamento normal na crise. E muitas estavam com percentuais bem abaixo disso, já que há segmentos fechados há mais de 150 dias, como vestuário e calçados”, diz o presidente do Sindilojas-BH, Nadim Donato. “Por isso, entendemos que esses três dias são fundamentais. Lógico que não vamos ter um Dia dos Pais como em outros anos, mas acreditamos que o faturamento dos lojistas será, em média, 70% do que poderia ser sem a pandemia”, completou.
Para o dirigente, que participa, desde o início da crise, dos debates com a prefeitura para a retomada de atividades na cidade, também haveria uma demanda reprimida de consumo em razão de mais de quatro meses de restrições aos estabelecimentos.
“Tem muita gente que quer comprar produtos para si, além de outras pessoas que querem adquirir presentes e enviar aos pais, que estão distantes. Creio que teremos uma surpresa agradável nos próximos três dias”, ressalta.
Ajuda, mas…
Embora tenha adotado postura mais crítica quanto às ações da PBH na pandemia, o presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas da cidade (CDL/BH), Marcelo Souza e Silva, também vê “positividade” na reabertura do comércio, de hoje a sábado.
“Vai ajudar, mas não resolve”, afirma. “Nesse longo tempo em que as principais atividades de BH, que são comércio e serviços, ficaram fechadas, o dinheiro não circulou e a renda da população caiu bastante”, completa Silva, lembrando que ainda houve aumento nas compras pela Internet, deixando de lado as operações concretizadas fisicamente. Para o presidente da CDL, as vendas devem ser reduzidas em 40% na capital, em relação ao Dia dos Pais do ano passado.
Assertividade
Ainda segundo Silva, a orientação aos comerciantes é para que cumpram, de hoje a sábado, todas as regras sanitárias exigidas, da oferta de álcool em gel ao controle e limitação de clientes nos espaços. Aos consumidores, a recomendação é para que façam compras mais assertivas.
“Por exemplo, pesquisando produtos e preços e negociando valores com lojistas pela Internet ou telefone, antes de irem aos estabelecimentos”, ressalta.
Reabertura ganha contornos de um começo da salvação
Autorizada pela PBH após pedidos do empresariado e anuência de infectologistas, baseados em recentes indicadores sobre a pandemia, a reabertura do comércio na cidade, inclusive de setores que não foram contemplados por medidas do tipo desde 20 de março, pode ser vista como um começo de salvação para muita gente.
É o caso de Marcelo Rolim, de 49 anos, proprietário da Ideale Calçados Masculinos, com oito unidades na capital, a maioria delas localizadas em shopping centers – que, assim como sapatarias e lojas de roupas, também foram liberados. “Vamos diminuir o prejuízo”, afirma o empresário. “Esperamos faturar 70% do que conseguiríamos no Dia dos Pais sem a pandemia. Depois, torcemos para que as aberturas continuem acontecendo de forma gradual”, acrescenta.
Rolim conta que, nos mais de quatro meses com o negócio fechado, o jeito foi tentar manter a proximidade com os clientes e vender sapatos pela Internet. O resultado, porém, ficou bem aquém do necessário. “Comercializamos apenas 10% do habitual nesse período”, conta ele, que, para evitar o pior, usou a MP 936 e deu aos 60 colaboradores 30 dias de redução salarial e 90 dias de suspensão de contratos.
Para o economista Guilherme Almeida, da Fecomércio-MG, deve haver, de fato, redução do impacto negativo no comércio com as novas reaberturas, sobretudo em estabelecimentos fechados desde o início da crise e/ou que não se adaptaram ao e-commerce. Mas a recuperação ainda está distante. “Temos componentes que não permitem otimismo, como o achatamento da renda, o alto desemprego e as incertezas em relação à pandemia”, afirma.
Fonte: Jornal Hoje em Dia – Reportagem de Evaldo Magalhães – Publicado em 06/08/2020.