Interior sofre mais com inflação dos alimentos, após coronavírus

Remarcações de preços de alimentos básicos, como feijão, arroz e legumes, levou a forte alta do custo da cesta básica em Montes Claros, Viçosa e Uberlândia, inclusive acima do aumento verificado em BH

Não bastasse o avanço da COVID-19, a inflação dos alimentos sacrifica mais as famílias do interior de Minas Gerais. As remarcações da comida tão essencial na mesa de todo dia, – feijão, arroz, legumes, entre outros itens – levaram a cesta básica a aumentos surpreendentes em Montes Claros, no Norte do estado; Viçosa, na Zona da Mata; e Uberlândia, no Triângulo. Nessas três grandes cidades da geografia da produção estadual de bens e serviços, a evolução do gasto medido em março por instituições locais de pesquisa ligadas a universidades superou as despesas em BH, epicentro da doença respiratória.

As leis da economia de mercado não têm piedade e nem era de se esperar que cedessem aos duros efeitos de uma pandemia. Ainda assim, torna-se difícil explicar sinais trocados num momento em que os preços de serviços com forte participação no orçamento familiar, como a gasolina e etanol, de um lado, e os serviços pessoais, de outro, despencaram, sem, contudo dar um refresco ao bolso, num período de isolamento social.

Montes Claros apurou elevação de 3,59% no custo da cesta básica em março, adquirida a R$ 343,74, portanto, depois de iniciado o isolamento social. O desembolso em Uberlândia encareceu 3,27%, atingindo R$ 449,10, e em Viçosa o consumidor teve de pagar 2,54% a mais na comparação com fevereiro, num total de R$ 365,72. O reajuste em BH foi de 2,50% em março e os dados já divulgados de abril, acompanhados pela Fundação Ipead, vinculada à UFMG, mostram nova alta de 1,07%, com despesa de R$ 476,43.

Durou pouco a alegria do consumidor ao ver quedas de preços que pareceriam inacreditáveis até o fim do ano passado, como de 8,52% no preço da gasolina e 13% na cotação do etanol na bomba, ambas medidas em abril pela Fundação Ipead na capital mineira. As contas do mês passado chegaram com aumentos de 28% no preço do feijão; 14% a mais na compra do leite e 9% para o arroz.

Há de se considerar que os produtores enfrentaram problemas climáticos que afetaram a safra, mas como entender o frete mais caro, quando o gasto com combustível recuou? Thaize Martins, coordenadora de pesquisas da Fundação Ipead, chama a atenção para a inevitável lei da oferta e da procura – na pandemia, o consumo de alimentos em casa cresceu e, com isso, eles encareceram – e faz um alerta.

“Enquanto durar a situação de distanciamento social, esperamos que se mantenha a pressão dos itens alimentícios sobre a cesta básica e a inflação”, diz Thaize Martins. Além da demanda do consumidor, outro fato é que a logística de distribuição repassa aos seus preços, e isso chega ao bolso da população, o custo maior com medidas exigidas durante a pandemia, de higienização de caminhões e aquisição de equipamentos de segurança para os empregados. Há quem também use as remarcações de preços para compensar perda de vendas.

Mudança de hábitos, da mesma forma, costuma apresentar a sua conta. A praticidade de pedir o lanche ou a refeição fora de casa não perdoa. Esse “luxo” estimulado pelo isolamento e o sistema de delivery em geral foram decisivos para o farto reajuste, em BH, de 3,18% nos gastos com a alimentação na residência em abril, de acordo com a Fundação Ipead. O IPCA do mês passado teve ligeira deflação de 0,08%.

A Fundação Ipead adaptou a coleta do IPCA para captar os preços dos alimentos que passaram a ser adquiridos por meio de sistemas de delivery próprio e de aplicativos de transporte. O cenário está nebuloso o suficiente para indicar quando o consumidor sentirá efeitos positivos da banda da inflação em queda. Por enquanto, melhor é colocar as barbas de molho, como diziam os antigos, gastar apenas com o essencial e guardar o dinheiro que for possível, diante de um futuro, no mínimo, incerto.

Sufoco

32,89 É o percentual do salário mínimo que o trabalhador de Montes Claros teve de gastar para comprar os 13 produtos da cesta básica

IPCs

Impactados pelos alimentos, os IPCs de Viçosa e Uberlândia foram contidos, em março, pela forte retração dos preços do setor de serviços, devido à gasolina e ao etanol mais baratos. O IPC medido pela Universidade Federal de Viçosa variou 0,18% e o IPC apurado pela Universidade de Uberlândia teve deflação de 0,09%.

Pequi e umbu

Grupo de 526 extrativistas de pequi, umbu e mangaba de Minas vão receber subvenções de R$ 1,6 milhão da Conab por meio da Política de Garantia de Preços Mínimos para Produtos da Sociobiodiversidade. A quantia é devida como bônus quando o produto extrativo é vendido a preço inferior ao mínimo fixado pelo governo.

Fonte: Jornal Estado de Minas – Publicado em 08/05/2020 por Marta Vieira.

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