Hora de cautela: para economistas, momento não é de correr riscos com os investimentos

0 ano de 2020 começou com um cenário bem definido para os investimentos. Com a taxa Selic em mínimas históricas, a poupança, já contraindicada, e outras opções de renda fixa atreladas ao CDI se tornaram menos atrativas. Os sinais econômicos favoreciam as apostas nas ações e nos fundos multimercados. Não por acaso, março registrou recorde de entrada de pessoas físicas na Bovespa, com um aporte superior a R$ 17 bi. Em janeiro, o Ibovespa se aproximou dos 120 mil pontos. 

Um quadro que começou a mudar com a queda do petróleo, em meio à guerra comercial entre Rússia e Arábia Saudita. E sofreu reviravolta total diante do novo coronavírus. O tombo acumulado supera os 30% e o índice se situa entre 70 e 80 mil pontos. Com boa parte dos setores econômicos impactados pelo período de produção em queda (ou parada) e consumidor em casa, a tendência é de cenário desfavorável no curto e médio prazo.

É o caso de arriscar; tentar reduzir o prejuízo ou esperar pela retomada? Em meio a tantas dúvidas, mesmo para os especialistas, um ponto é consenso: o ideal é não correr riscos ou tomar decisões precipitadas. Especialmente no caso do pequeno investidor, menos acostumado a tamanha volatilidade dos mercados.

“Existem oportunidades sim, mas o desafio é acertar o tempo de entrada. Quem entrou na Bolsa em janeiro perdeu mais de 50%. Mais do que pensar em ganhar dinheiro, a preocupação agora deve ser a de não perder. Com os juros em queda e a inflação próxima de zero, a renda fixa tem apresentado resultado negativo. Mas é preferível perder 2% num mês a correr o risco de perder 20 vezes isso nas ações”, destaca o presidente do Instituto de Pesquisas Econômicas e Administrativas (Ipead), da UFMG, Fabrício Missio.

Reserva
Ele destaca a importância de se manter a chamada reserva de liquidez, montante que possa ser resgatado para as despesas imediatas. Lembra ainda que há instrumentos como os fundos multimercado (e mesmo de ações) com gestores capazes de fazer as correções necessárias para enfrentar as dificuldades. “Nada nesse momento está oferecendo um ganho muito acima do restante”, lembra.

Tendência é de juros em alta quando o cenário se estabilizar
O presidente do Ipead prevê que a crise durará ao menos entre um e dois anos e, no caso do Brasil, dependerá muito do comportamento da economia norte-americana. Ele antevê alguns cenários, consequência da injeção de dinheiro no mercado pelos governos para ajudar os menos favorecidos. 

“Assim que a situação se estabilizar, a ordem será elevar os juros, e há previsões da Selic voltando a 10, 15% ao ano (3,75% atualmente). Os países terão de lidar com o aumento da dívida pública e, no caso brasileiro, voltar a buscar investimento externo. Assim, a renda fixa e, especialmente, os títulos do tesouro atrelados à Selic futura tendem a ser uma boa opção. Mas não é algo para o curto prazo”, alerta.

Outras boas possibilidades, segundo ele, tendem a vir de ativos reais, como os imóveis, ou da aposta em startups ligadas à área da saúde. “O momento está mostrando como esse tipo de indústria tende a ser importante. O investimento em equipamentos e insumos não vai se limitar ao período da epidemia, tende a ser reforçado em todo o mundo”.

Incerteza
Diretor de Política Monetária do Banco Central entre 2004 e 2007 e hoje gestor de um dos mais respeitados portfólios de fundos do país (Ibiúna), Rodrigo Azevedo também não considera o momento propício para riscos. Segundo ele, a imensa volatilidade dificulta a identificação de boas oportunidades. 

“A visibilidade que nós temos em relação aos vários cenários é muito baixa. Ninguém sabe com exatidão qual o remédio e sua dose para combater a crise econômica. E tudo dependerá da evolução da pandemia. O momento não é de operar de peito aberto, mas sim de cautela”.

Para ele, o dólar não deve ser encarado como opção no momento, já que a procura global fez a moeda norte-americana se fortalecer. “Governos, empresas e pessoas buscaram se proteger do risco, e foram para o dólar. Na hora que a incerteza começar a se acalmar, é natural que ele comece a recuar”. 

O economista também sugere resguardar a reserva para o curto prazo e diz que o suporte profissional pode ajudar a encontrar melhores opções. “Com o juro baixo, o CDI está baixo, essa parcela de liquidez normalmente na renda fixa vai render menos, mas é a segurança. É interessante ouvir alguém em que se confia e conhece o mercado para identificar um produto mais adequado à realidade de cada um”. 

Fonte: Jornal Hoje em Dia – Publicado em 20/04/2020 por Rodrigo Gini.

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