O aumento de R$ 6 no salário mínimo, que passará a partir do próximo dia 1º para R$ 1.045, vai garantir ao trabalhador a compra no mês, por exemplo, apenas de um bifinho de 200 gramas de chã de dentro. O produto, usado para o cálculo da cesta básica pelo Ipead, em Belo Horizonte, tem custo médio de R$ 30,3 o quilo.
O valor “extra” também equivale a três pastéis em muitas lanchonetes de BH que vendem o salgado a R$ 2. Caso do estabelecimento onde trabalha Natália Carvalho, de 24 anos, na região Oeste da cidade. Ela se diz indignada com o “novo reajuste” do mínimo. “Dá para comprar só três pasteis, no mês inteiro. Para quem vive com um salário, esse aumento não resolve nada”, disse.
Embora a alta do mínimo pareça irrisória para muita gente, é suficiente, por exemplo, para um dia completo de refeições no restaurante popular da prefeitura. Por R$ 6, você pode tomar um café da manhã (R$ 0,75), almoçar (R$ 3) e jantar (R$ 1,50). Ainda guardará R$ 0,25 de troco.
“Seis reais… É uma quantia pequena, mas dá para a gente aliviar momentaneamente do calor neste verão”, comentou a artesã Maria do Socorro Souza, de 56 anos, enquanto pagava R$ 2 numa casquinha com mistura de chocolate e baunilha numa lanchonete no Centro.
Se ela desejasse usar os R$ 6 no mesmo estabelecimento, poderia ter saboreado mais dois sorvetes. Ou apreciar um caldo de cana, cujo copo de 300 ml numa tradicional lanchonete na Galeria do Ouvidor sai a R$ 2.
Essa é a mesma quantia que Roberto Visconti, dono de um restaurante na rua São Paulo, cobra de quem não é cliente para usar o banheiro do estabelecimento. “Com R$ 6, a pessoa pode levar uma coxinha e um refrigerante. O total é de R$ 4,80. Neste caso, vai sobrar R$ 1,20 de troco. É menos que os R$ 2 que cobro para a pessoa usar o banheiro”, disse o comerciante.
Maycon Aurélio Pereira de Jesus, que ganha a vida na Praça Sete, negocia panos de prato com estampas de marcas famosas de cerveja a R$ 6 cada. O preço é convidativo. “Vendo, em média, mais de 100 unidades por mês. E tem várias estampas de cervejas”, mostra o rapaz.
O ponto de venda dele é próximo ao do pipoqueiro Márcio Reis. Ele oferece a iguaria na opção doce e na salgada pela metade do adicional do novo salário mínimo: “Cada saquinho médio custa R$ 3. Vem gastar, aqui, os R$ 6 a mais no salário mínimo”, convida o rapaz, em tom nitidamente irônico.
Alta atípica da inflação em dezembro levou ao reajuste do piso
A origem do segundo aumento do piso nacional neste ano está na disparada do preço da carne. Em Belo Horizonte, chã de dentro é a única peça de carne que compõe a cesta básica elaborada pela Fundação Ipead.
Um cesta básica em BH precisa ter seis quilos de chã de dentro. Esse montante sai a R$ 181,84, segundo a última edição do levantamento da Fundação Ipead, divulgado na semana passada. Dessa forma, um quilo do alimento custa R$ 30,3. Portanto, R$ 6 equivaleriam a 200 gramas, ou um bife, do produto.</CW>
Na terça-feira, quando anunciou o novo salário-mínimo, o presidente Jair Bolsonaro lamentou a disparada do preço da carne: “Nós tivemos uma inflação atípica em dezembro, a gente não esperava que fosse tão alta assim, mas foi em virtude, basicamente, da carne, e tínhamos que fazer com que o valor do salário mínimo fosse mantido, então ele passa, via Medida Provisória, de R$ 1.039 para R$ 1.045, a partir de 1º de fevereiro”.
O primeiro reajuste do mínimo (de R$ 998 para R$ 1.039,00) foi anunciado pelo governo no fim do ano passado. Para isso, a União levou em conta a estimativa do mercado financeiro para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), que determina o valor do piso nacional para o ano seguinte.
A expectativa era a de que o INPC ficasse em 4,1%, mas a disparada do preço da carne elevou o indicador para 4,48%. Desta forma foi necessário corrigir o primeiro aumento.
O governo federal ainda não detalhou de onde irá tirar o extra para bancar o novo mínimo. Para cada R$ 1 a mais, o custo é de R$ 355,5 milhões. Mas o ministro da Economia, Paulo Guedes, informou, na mesma oportunidade em que Bolsonaro divulgou o valor de R$ 1.045,00, que o Palácio do Planalto deverá anunciar, em breve, uma arrecadação extra de R$ 8 bilhões.
Só o fim da dedução dos patrões com empregados domésticos no Imposto de Renda, a partir deste ano, irá gerar R$ 700 milhões ao erário.
Fonte: Jornal Hoje em Dia – Publicado em 16/01/2020 por Paulo Henrique Lobato.